Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 08, 2006

Eliane Cantanhêde: Tudo azul

Folha de S.Paulo - Brasília -

A primeira impressão de quem vai ao comitê de campanha de Lula no centro de Brasília é de que está entrando no lugar errado: os 20 anos de cartazes, bandeiras e estrelas vermelhas ficaram no passado. A cor predominante é azul, com algumas rajadas de amarelo. Tanto pode ser do PT quanto muito bem poderia ser do PSDB. A "onda vermelha" de 2002 foi trocada sem dó nem piedade pelo "tudo azul" de 2006. Como o Fome Zero, que virou um selinho no pé do Bolsa-Família, o símbolo do PT virou uma estrelinha num canto dos cartazes de Lula. Só o presidente do partido, Ricardo Berzoini, parece manter uma graúda estrela vermelha no peito e se orgulhar dela: "A minha continua bem aqui". Essa troca tão drástica nos diz que Lula seguiu a orientação de pesquisas, de assessores e de marqueteiros e descolou de vez do PT, reforçando a tese de que nem tem responsabilidade pelos escândalos nem foi contaminado por eles. Como diria o neo-PT, uma coisa (o candidato) é uma coisa, outra coisa (o partido) é outra coisa. A troca nos diz, ainda, que tanto faz ser petista ou tucano, ser presidente da República ou ex-governador de São Paulo, porque tudo virou uma salada só, com São Paulo sob as bombas do PCC, o Rio de Janeiro há muito conflagrado, Rondônia fechada para balanço, os sanguessugas de praticamente todos os partidos atuando de Norte a Sul. E a campanha segue morna, sem perspectiva de ondas, quaisquer ondas. Na quinta passada, numa conversa informal com uns dez estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina, só três abriram o voto (um deles nulo). Os demais se declararam em dúvida. Não há ânimo, debate, paixão, só perplexidade e desencanto. Mas, como vemos no comitê, ou nos comitês, não há motivo de preocupação. Está tudo azul. 

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