Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 08, 2006

Janio de Freitas: O crime à vontade


Folha de S.Paulo -
A NOVA INVESTIDA do crime em São Paulo tem a propriedade de dizer mais sobre os que protestam contra a criminalidade do que sobre os autores e os mandantes dos ataques.
Observar que o assunto foi lançado ao esquecimento tão logo cessaram a primeira onda de ataque, em maio, e a segunda, dois meses depois, é apenas repisar o que aqui foi dito sobre a indiferença dolosa dos bacanas e dos bacaninhas, dos intelectuais, dos dirigentes políticos e do jornalismo desse Estado tão mais decadente quanto mais enriquecido. Daquela observação para cá, porém, há uma novidade: as eleições.
Os candidatos ao governo de São Paulo vão a feiras, vagueiam com cara sem graça por algumas ruas, fazem cenas para as câmeras. Mas nenhum foi capaz de dizer alguma coisa sobre o que lhe compete, se eleito, em relação à criminalidade que está engolfando à vontade o Estado. Nada disseram nem foram cobrados até os criminosos sugerirem, mais uma vez, que alguém o fizesse, ainda que só para complementar o noticiário da nova onda.
Não fosse o cúmulo da injustiça, que faz com que as vítimas prioritárias das ondas criminosas sejam os de níveis socioeconômicos baixos, seria o caso de dizer que São Paulo faz por merecer o que lhe acontece.

A armadilha
A "proposta genial", como disse Lula, de uma Constituinte exclusiva foi lançada publicamente com o uso de um recurso inaceitável. A proposta ficou como parte do documento de sugestões levado ao Planalto por uma comissão de juristas. Tal procedência foi estabelecida pela conversa de repórteres com Tarso Genro, sobre a reunião no Planalto, e depois sublinhada por Lula, segundo o qual foi do encontro com os juristas que "saiu a idéia" da Constituinte.
Esse arranjo das informações e das palavras, sobre a reunião, foi uma montagem dos fatos mal intencionada. Os juristas e a representatividade da OAB, de que eram portadores, foram usados à sua revelia, para dar uma fachada de isenção e respeitabilidade ao projeto tramado no governo.
Dos sete juristas que levaram o documento ao Planalto, cinco têm posição firmada contra nova Constituinte, e dois não são propriamente definidos a favor ou contra. As sugestões do grupo, relativas ao regulamento de CPIs, nem mencionam a palavra Constituinte, que foi lançada na conversa, significativamente, por Tarso Genro. E logo, não menos sugestivamente, objeto da hipótese, suscitada por Lula, de que a OAB poderia lançar um debate a respeito, com organizações da sociedade.
Um plano que já nasce de má-fé não merece nem ser discutido.

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