Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 16, 2006

Celso Ming - Greve irresponsável




O Estado de S. Paulo
16/8/2006

Ontem, os metroviários de São Paulo criaram um caos nos transportes da cidade só para dizer à população que não gostam da saída encontrada pelo Estado para ampliar a rede do metrô paulistano.

Não gostam do sistema da Parceria Público Privada (PPP) porque, dizem, é uma jogada cujo objetivo é privatizar o metrô.

Veja que essa greve não questiona o que é melhor para o usuário do metrô e para seu proprietário, que é o Estado de São Paulo. Questiona só o que os funcionários da empresa entendem que seja do interesse deles próprios, mesmo que para isso 2,8 milhões de trabalhadores fiquem sem transporte e a cidade vire um pandemônio. Esta foi uma greve politiqueira e irresponsável.

O sistema PPP foi sacramentado pelo governo Lula para enfrentar a escassez de recursos. Há alguns anos, o governo se endividava para levar adiante projetos de desenvolvimento. Foi assim que foram construídas Itaipu, a Transamazônica e o setor siderúrgico.

Essa fase acabou porque o Estado, quebrado como está, não tem como se endividar mais. A saída foi chamar o setor privado para formar parceria com o setor público. É o modelo que está dando certo nas rodovias paulistas: a empresa que ganha a licitação se encarrega de construir e conservar estradas e, em contrapartida, de explorar o pedágio, nas condições fixadas por lei.

Assim, o consórcio MetroQuatro encabeçado pela Companhia de Concessões Rodoviárias (com 68% do capital total), empresa de capital aberto e contabilidade escrutinada por auditores externos, obteve a concessão para concluir até 2008 a linha 4 do metrô paulistano. Essa linha vai unir as estações da Luz, no centro da cidade de São Paulo, até Vila Sônia, na zona sul. Terá 12,8 quilômetros de extensão e, no estágio final, funcionará com 29 trens.

Nessa parceria, o Estado se encarregará de abrir o túnel de 12,8 quilômetros de extensão, construir 11 estações e instalar as linhas que interligarão as atuais três em funcionamento mais a rede ferroviária que serve a região metropolitana.

O consórcio vencedor se encarregará de dar acabamento às estações, de dotá-las de sistemas de comunicação e de sinalização e de comprar nada menos que 29 composições. Em troca, poderá administrar a linha por 30 anos.

Não se trata aqui de criar um metrô concorrente ao já existente ou de disfarçar a entrega de patrimônio público para um punhado de exploradores privados, como insiste o Sindicato dos Metroviários. Ontem, o ministro da Fazenda, o petista Guido Mantega, ele próprio um batalhador pela implantação do modelo das PPPs, disse que não entendia essa greve. Enquanto isso, o senador Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo do Estado, preferiu tomar partido dos metroviários e pareceu disposto a reabrir a discussão do projeto.

Como garantiu o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o modelo desta PPP foi inspirado no metrô de Pequim.

Não há como vacilar na parada. Esta é uma paralisação eminentemente corporativa, convocada por um sindicato que afronta o interesse público e a própria Justiça do Trabalho, que determinou o funcionamento normal dos trens. Pode-se não gostar do sistema de PPPs. Mas não há o que colocar em seu lugar.

Os grevistas não apresentam nenhuma proposta melhor do que essa. A discussão pretensamente ideológica é descabida. Apenas esconde o que a corporação dos metroviários de fato teme: que as condições de trabalho dos funcionários do consórcio vencedor, a serem contratados em condições diferentes das que eles usufruem, possam colocar em risco suas próprias regalias.

Para eles, que se lixe o trabalhador.

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