O Estado de S. Paulo |
16/8/2006 |
O contraste entre as cenas de debates antigos mostradas pela TV Bandeirantes antes do início do programa e o que se viu a seguir no primeiro embate entre candidatos à Presidência da República desta eleição, na noite de segunda-feira, diz quase tudo sobre a falência da fórmula atual de exibir ao eleitor o confronto de idéias entre os postulantes ao poder. Primeiro de tudo porque, sem o candidato oficial e com o excesso de amarras na forma de apresentação, fica faltando exatamente o confronto. As imagens de "antigamente" mostravam momentos de bom combate entre candidatos como Mário Covas, Paulo Maluf e Jânio Quadros em exposição livre das respectivas personalidades. Em seguida, assistimos a José Maria Eymael informar que é autor do artigo 180 da Constituição, Luciano Bivar explicar o inovador conceito de "verdadeiras formigas humanas" aplicado à situação da agricultura, Cristovam Buarque propor a internacionalização dos museus, Heloísa Helena assegurar a queda dos juros pela metade e Geraldo Alckmin discorrer sobre a eficácia da política de segurança pública de São Paulo. Seja por ausência de raciocínios mais instigantes a serem desenvolvidos, seja pelas restrições impostas aos organizadores, os candidatos se apresentaram devidamente treinados (amestrados?) para resumir e concluir, ainda que não concluíssem coisa alguma de maneira atraente, inteligível ou original. Nesta altura apontará o nobilíssimo e atento leitor para a impropriedade da comparação entre duas épocas, alegando diferença brutal na qualidade do elenco de outros tempos. De fato, o plantel de 2006 está especial: em matéria de sedução é quase um breve contra a luxúria. Está bem, mas é o que temos e, de mais a mais, são candidatos a presidente e não a líderes carismáticos do sétimo dia nem a guias geniais dos povos. Agora, compostura, comedimento e civilidade não precisam necessariamente provocar enfado. Do contrário, acabaremos por interpretar como positivos atributos opostos que podem ser ótimos em palcos, mas em palanques em geral resultam em populismo. O pecado original não está, pois, nos candidatos, mas nos meios e modos que vieram sendo consagrados nos últimos 24 anos, desde as primeiras experiências pós-redemocratização, com os debates da eleição para governador, em 1982. De lá para cá se passou a aceitar como natural, por fruto de estratégia de comunicação, a ausência dos candidatos favoritos. Na disputa presidencial Fernando Henrique inaugurou a prática, Lula embarcou na canoa com entusiasmo e José Serra, em São Paulo, consolidou a tese para os embates locais. E qual é a tese? A de que não vale a pena correr o risco de se expor a ataques e perder o favoritismo. Dentro dessa lógica, sai mais barato agüentar as críticas por não ir do que se submeter ao imponderável. O eleitor, como se vê, não entra nessa contabilidade e o favorito, que teoricamente está na frente por ser melhor, não vai ao teste. Concorre com medo de errar, não com vontade de acertar e mostrar à maioria que deposita nele suas intenções de voto que está coberta de razão ao fazê-lo. E, na ausência do representante da situação, esvazia-se de sentido a presença de todos os outros que são de oposição. Estabelece-se, então, o cenário de segunda à noite: uma troca de amabilidades entre desafiantes, que se vêem na insólita contingência de discutir com uma cadeira vazia, em última análise falando sozinhos, como se estivessem no horário eleitoral. O excesso de regras e restrições impostas pelos partidos nas reuniões preliminares de organização do debate acabam por tirar toda a espontaneidade dos participantes e a liberdade de quem patrocina o embate e subtrai de quem assiste a oportunidade de um bom espetáculo político. E por espetáculo entenda-se o real significado do termo, aquilo que chama e prende a atenção, não uma guerra de ofensas ou exibições de personalismos à deriva. Os partidos têm responsabilidade nisso porque entendem que, quanto mais restritiva for a forma, mais protegidos de erros estão seus candidatos. E aqui prepondera a ilusão de que criando um emaranhado de regras se garante a manifestação igualitária de todos. Ocorre o contrário: ficam todos tensos, reféns de um palavrório óbvio, e acabamos por incorrer no equívoco de imaginar que o vencedor foi o mais incisivo, ou o que "emocionou" com uma tirada de efeito. Por fim, o defeito da legislação e a obrigatoriedade de comparecerem todos os candidatos a pretexto de assegurar igualdade. Nada mais injusto que tratar diferentes como iguais e conferir importância artificial a quem não tem relevância real. Como seria, então, um bom debate? O mais simples possível: com a presença dos principais oponentes, sem direito a recusa por força do respeito ao eleitor, sendo entrevistados livremente por uma bancada de jornalistas. E as regras? As da convivência normal entre seres civilizados, cujo aprendizado é adquirido ao berço. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, agosto 16, 2006
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