Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 17, 2006

Ronivon, o brasileiro André Petry

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"Toda vez que ele passa uns dias na prisão,
toda vez que vende seu voto ou que compra
o voto dos outros, ele debocha do Brasil"

O ex-deputado Ronivon Santiago, 55 anos, saiu da prisão. Passou as
últimas semanas enjaulado numa cela em Cuiabá porque é suspeito de
ser uma das sanguessugas que se locupletavam desviando dinheiro
público na compra superfaturada de ambulâncias. A Justiça achou que
não deveria mantê-lo atrás das grades. Será investigado, talvez
denunciado, quem sabe até condenado, mas por ora está livre e solto.

A biografia de Ronivon Santiago é uma síntese do Brasil. Vale a pena
conhecê-la.

Em 1997, o deputado Ronivon Santiago, então filiado ao PFL do Acre,
foi flagrado confessando ter vendido seu voto a favor da emenda da
reeleição por 200.000 reais. Foi investigado por uma comissão da
Câmara e depois por outra, porém se antecipou à punição renunciando
ao mandato. O Ministério Público recebeu a denúncia, mas, sob o
comando de Geraldo Brindeiro, o engavetador-geral da República,
engavetou o caso. Ronivon Santiago ficou sem mandato mas seguiu
livre, leve e solto – e pronto para voltar a Brasília.

Em 2002, o deputado, agora eleito pelo PP do Acre, voltou mesmo para
Brasília. Antes, na campanha, foi pilhado comprando voto de eleitores
humildes da periferia de Rio Branco por 100 reais – e ainda lhes
aplicou um calote. Ficou uns dias na prisão, mas a Justiça achou que
não cabia mantê-lo preso. Assim, 2002 passou, 2003 passou e, em 2004,
o tribunal eleitoral, diante das vastas evidências de que ele
comprara voto de eleitor, cassou-lhe o mandato. A Justiça lhe deu
liminar, a Câmara fez que não era com ela, 2004 passou e 2005 quase
ia passando – mas Ronivon Santiago, depois de um ultimato, perdeu o
mandato em dezembro de 2005.

Antes disso, ainda no gozo de seu mandato, descobriu-se que Ronivon
Santiago estava – como poderia não estar? – na lista do mensalão. O
PP, que recebeu 4,1 milhões de reais do valerioduto, diz que
despachou 700.000 reais para que Ronivon Santiago pagasse o advogado
que o defendia de nada menos que 36 crimes eleitorais. A CPI
investigou o caso, fez a lista dos cassados – e ninguém se lembrou de
pedir a cabeça de Ronivon Santiago. Com certeza, o plenário da
Câmara, tão dócil com os criminosos, não lhe cassaria o mandato. Mas,
quietinho, ele salvou-se na véspera.

Agora, já sem o mandato que perdeu em dezembro passado, foi apanhado
no esquema das sanguessugas. Por sua biografia, talvez fosse uma
desonra não constar de um escândalo tão vasto cujos deputados
suspeitos são tão numerosos que, em algumas listas, chegam perto de
300. Sim, Ronivon Santiago estava lá. Admitiu à polícia que recebeu
uns caraminguás dos chefes do esquema das sanguessugas, mas alegou
que eram doações eleitorais legais.

Enquanto Ronivon Santiago pulava de mandato em mandato, de escândalo
em escândalo, de prisão em prisão, o que acontecia com as
instituições? Com a Justiça, o Congresso, os partidos, a polícia, o
Ministério Público?

Ronivon Santiago, toda vez que foge da polícia, toda vez que passa
uns dias na prisão, toda vez que vende seu voto ou que compra o voto
dos outros, debocha do Brasil. E o Brasil, zonzo, não consegue
responder ao deboche. E o Brasil, anestesiado, não consegue nem
reagir ao deboche.

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