primeira leitura
Os números do Ibope dão ao PSDB-PFL uma única esperança: a de que o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV impeça a vitória de Lula, que hoje seria confortável e se daria no primeiro turno. O que há de preocupante nisso para as oposições? Praticamente nada mudou em relação a quando o ex-governador venceu o embate interno no tucanato. Na verdade, nas várias pesquisas, ele até caiu um pouco. Está ali, margeando os 20%. O esforço imediato será forçar o segundo turno.
O que se tem aí é o que se vai ver na urna? Não dá para afirmar, mas é óbvio que a situação de Lula é muitíssimo confortável: pessoalmente, ele está preservado do escândalo que é seu governo; a economia emite sinais que são positivos para a massa eleitoral que ele cativou; turbulências externas podem ser pressentidas, mas, como naquela música, os petistas cantam: “Não se afobe, não/ que nada é pra já”. O levantamento foi feito entre os dias 28 e 31 do mês passado e pegou, portanto, o horário gratuito de TV dos tucanos. Os números não se mexeram. Agora vem a Copa do Mundo.
Se os oposicionistas têm alguma estratégia, é o caso de mudar. Dizia-se que se queria chegar ao início do horário eleitoral gratuito com algo em torno de 25%. Bem, será preciso demonstrar mais nervos para tanto. Onde? É preciso que fique claro por que Alckmin é um candidato melhor do que Lula para governar o Brasil. Qual é o eixo da campanha? Talvez ele se revele nos programas de TV. A questão é saber se Lula não consolida de tal sorte a dianteira, que reste pouco a fazer.
Segundo turno
Superado o risco de o PT vencer no primeiro turno, tucanos e pefelistas podem olhar com alguma esperança para o segundo? Ainda há 10% que votam branco ou nulo, e 6% que dizem não saber quem escolher. Se quem vota hoje em Lula não mudar de lado, com 22 pontos de diferença, nada há a fazer mesmo que aqueles 16% escolham Alckmin, o que é improvável. Caso decidam por alguém, os votos seriam distribuídos. Uma diferença de 22 pontos supõe, para que Alckmin vença, a migração de nada menos de 11 pontos: mais de 14 milhões de eleitores que hoje dizem querer Lula teriam de escolher seu adversário direto. É uma tarefa gigantesca.
Assim, respondendo à pergunta que abre o parágrafo anterior, tem-se o seguinte: salvo Lula ser atropelado pelo seu passado, por algum evento até agora fora das previsibilidades, Alckmin terá enormes dificuldades. A diferença é muito grande. Apostar em dois meses de campanha para mudar oito meses de amplo favoritismo do adversário parece ser mais matéria de crença do que apego à realidade dos fatos. Infelizmente, na disputa mais importante, Alckmin não tem demonstrado, até agora, o mesmo vigor e destreza exibidos no confronto interno. Precisa redescobrir seu lado “pimentinha”.
E também é curioso que alguns grupos e até colunistas que defenderam com tanta ênfase a opção Alckmin contra Serra no PSDB tenham se calado de súbito. Até parece que o empenho maior consistia em tirar um nome da disputa, e não em ver o outro vitorioso.
Publicado em 1º de junho de 2006.