Panorama Econômico |
O Globo |
2/6/2006 |
O presidente Lula está sendo beneficiado pelo mesmo fenômeno que beneficiou seu antecessor: a queda de preços, principalmente dos alimentos, produz uma sensação de conforto econômico que eleva a popularidade. Uma parte dessa redução dos preços é resultado da queda do câmbio, que é também razão dos problemas que o presidente tem com empresários, exportadores e produtores rurais. O câmbio virou uma peça do xadrez político-econômico para o presidente Lula, como foi para o ex-presidente Fernando Henrique — ainda que a política cambial do primeiro mandato de FH tenha sido de câmbio fixo e agora o câmbio seja flutuante. Por razões e caminhos diferentes, chegaram ao mesmo ponto: o dólar baixo reduz o preço de vários produtos, que sobem menos que a inflação, ou até caem. Isso alimenta a popularidade. O real deu ao ex-presidente Fernando Henrique uma grande parte da vitória para o primeiro mandato, porque a queda da superinflação elevou o poder de compra que produziu o boom de consumo. O presidente Lula não tem a vantagem da travessia de uma economia superinflacionada para outra com inflação baixa, que sempre alavanca o consumo, mas tem o impulso da ampla distribuição de recursos do Bolsa Família e, além disso, a inflação declinante. No último relatório de inflação do Banco Central, ficou claro que grande parte da desinflação dos últimos trimestres se deve ao câmbio baixo. Quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, lamenta que o dólar tenha caído, ele está falando para os grupos de pressão, como empresários e produtores rurais, que precisam de elevação da taxa de câmbio. Mas, por outro lado, se o câmbio subir muito, isso produzirá aumento de preços de vários produtos, o que reduzirá a sensação de conforto econômico dos consumidores. Numa política econômica contorcionista, o governo recompensa as empresas industriais com promessa de mais linhas de crédito no BNDES e os produtores rurais com megapacotes de resgate financeiro. Recompensa por um dólar baixo que é, em parte, resultado dos juros altos. A situação ficou tão estranha que, se os juros, por hipótese, caíssem de uma hora para a outra, permitindo uma forte recuperação cambial, os empresários e os agricultores ficariam satisfeitos com o aumento da sua rentabilidade, mas a inflação resultante disso reduziria parte da popularidade do presidente. Para o candidato, o melhor é que o Banco Central continue sendo conservador. Por isso, a dualidade da equipe econômica é parte do show eleitoral. O BC agindo com independência concedida — e não garantida em lei — mantém a inflação baixa, mesmo que a custo do dólar barato. A Fazenda mantém seus discursos afinados com a Fiesp e o Iedi para acenar aos empresários com a possibilidade de um segundo mandato com política monetária mais frouxa e propostas protecionistas sendo atendidas. Outra alavanca para a popularidade, principalmente no Nordeste, tem sido o Bolsa Família. Políticas de renda mínima são necessárias, não foram invenção do atual governo, mas Lula ampliou esta específica forma de distribuição de recursos públicos. Isso, aliado a inflação baixa e declinante, permitiu uma redução do percentual de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza e miséria. Um efeito parecido, mas menor do que ocorreu no Plano Real. Naquela época, houve uma queda de oito pontos percentuais no total de pobres. Caiu de 42% para 34% da população. Agora houve outra queda de três pontos percentuais, para 31%. Esse aumento do poder de consumo sempre produziu, no Brasil, elevação da popularidade do presidente. Fernando Henrique perdeu popularidade violentamente quando desvalorizou o câmbio em 1999. Não porque houvesse uma defesa da política cambial anterior, mas porque a alta do dólar elevou a inflação e produziu uma sensação de desconforto e insegurança. Na época, a soma de ótimo e bom estava em 45% e caiu para 13% em poucos meses. Essa relação entre o fato econômico e o fato político parecia ter sido alterada no ano passado, quando a explosão das denúncias de corrupção derrubou a popularidade do presidente Lula. Em dezembro de 2004, o Datafolha registrou que 45% avaliavam o presidente positivamente e 13% negativamente. No fim do ano, a avaliação era liquidamente negativa. Agora, ele voltou a ter 39% de positivo e 22% de negativo. Em 2006, parece que a velha lógica que liga a economia à política está de volta. E, para que nada dê errado, Lula precisa do dólar baixo. Só que isso afeta cada vez mais os exportadores e os produtores rurais. Os produtos que continuam tendo preços altos no mercado internacional, como minério de ferro e açúcar, conseguem contornar os problemas causados pelo câmbio baixo. Mas os outros, não. O xadrez político-econômico fica cada vez mais complicado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, junho 02, 2006
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