Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 02, 2006

Luís Nassif - O guru de Tasso




Folha de S. Paulo
2/6/2006

Indicação de coordenador econômico de Alckmin é sinal da falta de objetividade com que Tasso conduz campanha

A indicação do economista Samuel de Abreu Pessoa para coordenar o programa econômico do candidato Geraldo Alckmin é mais um sinal da falta de objetividade que vem caracterizando a condução imprimida pelo senador Tasso Jereissati à campanha tucana.
Nada contra os méritos acadêmicos de Abreu Pessoa. Trata-se de um econometrista capaz de utilizar fórmulas sofisticadíssimas para comprovar que não basta a universalização do ensino: há que ter igualmente qualidade. Em seus trabalhos, levanta indagações pertinentes, não respostas. Ele sabe medir o passado de forma picada -analisa os efeitos do sistema educacional, da demografia, do modelo exportador sobre a distribuição de renda. Mas não consegue expor uma visão sistêmica capaz de explicar o todo e menos ainda avançar em visões de futuro. Não se menosprezem essas medições. Elas serão de muita utilidade para um estrategista. Mas conferiu-se ao contador (no melhor sentido da palavra) o papel de estrategista. Tente tomar um dos trabalhos mais relevantes de Pessoa -"Perspectivas de Crescimento no Longo Prazo para o Brasil: Questões em Aberto"-, de janeiro, e transformar em plataforma de campanha (cópia em www.dinheirovivo.com.br). Em geral, os grandes economistas colocam no trabalho principal as idéias, a visão de conjunto, as hipóteses. Depois, no rodapé ou em anexos, vão as fórmulas que comprovariam as hipóteses utilizadas. Pessoa faz parte da geração que gosta de colocar as fórmulas em primeiro plano. Depurado das fórmulas, o que o trabalho mostra? Por exemplo, ele constata que o efeito do crescimento da China sobre as commodities brasileiras é similar ao que ocorreu no fim do século 19 com o desenvolvimento europeu demandando commodity sul-americana. A partir daí, inunda o leitor com perguntas. Uma maior especialização em bens primários estabelece limites para o crescimento de longo prazo de uma economia? Existe algo essencialmente ruim com esse padrão? Durante a primeira globalização, há indícios de efeitos deletérios para a distribuição de renda na América Latina. Será que esse mesmo efeito ocorrerá? Só há perguntas do acadêmico que Tasso incumbiu, oficialmente, de buscar as respostas. Não há sequer um pensamento sistêmico permitindo entender de forma abrangente o processo que levou à estagnação das economias latino-americanas nas últimas décadas. Apenas constatações tópicas, como as de que a pauta de exportações de commodities, hoje, é mais diversificada que no século 19, tornando o país menos exposto à "loteria das commodities". Ou que "acredito ser importante conhecermos melhor os impactos de longo prazo sobre a economia brasileira do fenômeno China". Também acredito. Faltam dois ingredientes fundamentais em suas análises. O primeiro, explicar a lógica do modelo como um todo, somando as partes. O segundo, propostas concretas de ação pública. A não ser que Tasso pretenda colocar Pessoa com um quadro-negro em um palanque, discorrendo sobre suas indagações filosóficas aos eleitores.

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