Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 18, 2006

Crise e investimento Alberto Tamer

 Estado


Em toda a crise há também oportunidades implícitas. Esse é um dos ensinamentos da tradição chinesa já incorporado ao nosso dia a dia. Da mesma forma, a globalização e a questão da inserção externa da economia brasileira são assuntos polêmicos e instigantes. Para o Brasil, o desafio dessa abertura comercial e financeira está em crescer de forma sustentável, o que exige estudo sobre proposições de diferentes enfoques. É isso que pretende discutir o livro Crise e Oportunidade - O Brasil e o Cenário Internacional, organizado por Antonio Corrêa de Lacerda, doutor em Economia pela Unicamp e professor da Economia da PUC-SP, que conta com artigos de economistas de diferentes correntes teóricas e experiências profissionais. O lançamento do livro será, amanhã, às 19 horas, na Lima Barreto Livraria, Av. Paulista, 900, térreo, em São Paulo.

A importância do livro é que focaliza o Brasil no cenário da globalização e está dividido em Investimento Direto Estrangeiro, Fluxos de Capitais, Macroeconomia e Competitividade e Comércio Exterior.

Na ótica dos investimentos diretos estrangeiros, um dos pontos fortes do trabalho, traz as contribuições de Gustavo Franco. Ele destaca a posição do Brasil como grande absorvedor de investimento externo, que deve ser visto como um patrimônio do País e não como passivo, como querem alguns.

OU INVESTE OU NÃO CRESCE
A questão-chave é que, se o Brasil quiser crescer de forma sustentada, "não pode abrir mão de atrair mais investimentos externos, especialmente aqueles voltados para exportações de produtos e serviços de elevada demanda no mercado internacional".

JUROS E INVESTIMENTOS
Um exemplo dos riscos que um país emergente corre, por exemplo, é a volatilidade do mercado financeiro internacional. A alta dos juros nos EUA tem provocado, desde maio, uma realocação do portfólio, dos recursos, de investidores nos mercados internacionais. Esse movimento tem imposto perdas nas bolsas de valores dos países e gerado volatilidade nos mercados de câmbio.

Os impactos também afetaram a economia brasileira. Há, porém, uma clara percepção de que os fundamentos (balanço de pagamentos, situação fiscal e monetária) são hoje bem melhores. Desde o final de 2002, as reservas líquidas evoluíram de US$ 17 bilhões para US$ 65 bilhões atualmente. Embora seja um crescimento expressivo nos últimos quatro anos, é ainda um nível aquém de países semelhantes.

Da mesma forma, embora as exportações brasileiras tenham crescido expressivamente nos últimos dois anos, a valorização do câmbio é um dos aspectos que travam a expansão.

O resultado é que o Brasil com US$ 118 bilhões no ano passado detém apenas pouco mais de 1% das exportações mundiais. Somos apenas o 23º no ranking. Cada vez mais na economia mundial existe integração entre investimento externo e exportações.

TRANSNACIONAIS, O CAMINHO
O papel das empresas transnacionais tem sido crescente e o Brasil precisa aproveitar a existência, no país, em operação, de mais de 400 das 500 maiores empresas globais.

Mas, para isso, é preciso que os fatores internos também sejam favoráveis, como o câmbio, por exemplo. No cenário, a valorização do real, que ocorre desde 2004, é um aspecto preocupante. A apreciação exagerada da taxa de câmbio tem provocado uma reestruturação da produção também interna; em muitos casos ficou mais fácil importar do que produzir.

Isso só se tornará mais perceptível no médio e longo prazos. Já estamos vendo enormes prejuízos para o País.

O CAMPEÃO DERROTADO...
Proporcionalmente, o real valorizou-se muito mais do que as moedas dos demais países emergentes. Com uma base 100 no ano 2000, a moeda brasileira estava em 2005 em 130, contra 99 da China, 103 da Índia e México e apenas 60 da Argentina. Ou seja, a produção nacional avaliada em dólares encareceu e está perdendo mercado. Isso é algo que o BC deveria evitar, pois os prejuízos provocados são relevantes, ao mesmo tempo em que os eventuais benefícios sobre os preços menores dos produtos importados são artificiais e temporários. Uma estratégia cambial errônea.

A valorização dos preços no mercado internacional tem gerado distorções. Como os preços dos produtos exportados pelo Brasil estão mais elevados, a receita em dólares gera um superávit significativo na balança comercial. E também contratos de exportação antigos dificilmente renováveis, pois oneram o exportador brasileiro. Os grandes, que são poucos, agüentam. A maioria, não.

CRISE E OPORTUNIDADES
Estes são temas básicos que vêm sendo dispersamente analisados. O leitor perde a visão de conjunto que irá encontrar no livro Crise e oportunidade - o Brasil e o cenário internacional.

É por essa razão que iremos apresentar mais uma coluna mostrando os desafios e caminhos que economistas de alto nível e ideologia diferentes repensam o Brasil - este Brasil sem projetos, sem metas, sem rumos, vazio de idéias e isolado na sua soberana, mas desastrosa solidão. Estamos sós e nos vangloriamos disso...

* E-mail: at@attglobal.net

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