Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 18, 2006

Ameaçadas de extinção CELSO MING

ESTADO

ming@estado.com.br

A agonia da Varig levou seus credores de milhagem a temerem pelo calote, especialmente depois que a Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, andou dizendo que isso é brinde e brinde a empresa pode distribuir ou deixar de distribuir.

O diabo é que esses programas de fidelização estão sob suspeita no mundo inteiro. A situação do credor do sistema Smiles, da Varig, foi tratada aqui sexta-feira. Hoje, esta coluna vai falar dos problemas que envolvem os programas de milhagem no mercado global.

A pioneira dos programas de milhagem é a American Airlines. Seis dias depois que lançou seu AAdvantage, em maio de 1981, a United Airlines percebeu a extensão do feito da concorrente e tentou empatar o jogo com o seu Mileage Plus.

De lá para cá, o brinde virou um enorme negócio. Nem é mais preciso viajar de avião para ganhar milhas suplementares. Inúmeros cartões de crédito garantem direitos de milhagem aérea ou a cada pagamento com seu cartão. Podem ser compras de supermercado, pagamento por reabastecimento no posto de gasolina ou de serviços de pedicuro.

A American Airlines tem hoje 52 milhões de credores de milhagem; a Northwest, 30 milhões; a Delta, 38 milhões; e a United Airlines, 40 milhões. O último relatório da Varig é o que veio no balanço de 2004. Lá está registrada a existência de 5,1 milhões de participantes do seu sistema Smiles.

Quinta-feira, o jornal Globe and Mail, de Toronto, Canadá, informou que hoje cerca de 180 milhões de viajantes em todo o mundo detêm créditos acumulados de 14,2 trilhões de milhas. Isso aí dá 33,6 milhões de viagens de ida e volta da Terra à Lua, levando em conta que a distância média entre planeta e satélite é de 340 mil km.

No ano passado, as companhias aéreas distribuíram como prêmio 2,7 trilhões de milhas aéreas, mas resgataram apenas 895 bilhões. É verdade que esses programas impõem cláusulas de cancelamento: não usou o prêmio dentro do período de dois ou três anos, a milhagem caduca.

Além disso, está cada vez mais difícil usar as milhas de direito porque a concorrência entre as companhias aéreas aumentou em todo o mundo, as tarifas caíram, os aviões estão viajando cada vez mais lotados, e não deixam espaço para os credores de milhagem. Para evitar frustrações que poderiam virar o feitiço contra o feiticeiro, a própria American Airlines, que começou tudo, passou a oferecer aos participantes de seu programa a opção de trocar milhas por tacos de golfe, óculos de grife e uma profusão de engenhocas eletrônicas.

Difícil deixar de ver nesses números e no comportamento desse segmento a lógica da inflação. É como emitir moeda. No começo é uma maravilha, mas chega o dia em que um caminhão de dinheiro não compra uma caixa de fósforos.

Esses programas de fidelização do cliente podem ter-se transformado em manada de dinossauros à espera do primeiro meteoro a se precipitar do céu e decretar a extinção da espécie.

Nos Estados Unidos, a percepção de que programas desse tipo podem transformar-se em micos gigantescos está propiciando o aparecimento de instituições cujo objetivo é forçar as companhias aéreas a honrar com mais rapidez seus passivos de milhagem.

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