Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 01, 2006

ZUENIR VENTURA A nova paranóia

O GLOBO

Vocês já devem ter ouvido algumas dessas histórias, que fazem parte do elenco de extorsão da moda, da "nova paranóia carioca", como classifica Zeca Borges, superintendente do Disque-Denúncia. Ligam para sua casa, anunciam um acidente com alguém da família e daí passam para a chantagem. Comigo não houve conseqüências, porque quem atendeu foi a secretária eletrônica. A ligação é sempre a cobrar. O homem do outro lado se dizia tenente do Corpo de Bombeiros e queria fazer uma grave comunicação. Irritado porque ninguém atendeu, desistiu e passou a ofender.

Para uma outra casa, o sujeito fingia falar do hospital Souza Aguiar e informava que o número fora encontrado num carro que se chocara com uma moto no aterro do Flamengo. Perguntava pelo plano de saúde e pedia o telefone de um parente. A pessoa desligou assustada sem atender ao pedido. Já um casal amigo viveu momentos de grande apreensão porque o anunciado acidente teria ocorrido na Serra, justamente no momento em que uma das filhas, adolescente, estava indo de carro para Petrópolis.

Esta operação se revestiu de uma misteriosa sofisticação. Enquanto o pai negociava com os bandidos, que já então falavam em seqüestro, a mãe tentou ligar para o celular da filha, mas o encontrou fora de área. Um falso policial federal havia telefonado antes para a jovem, recomendando-lhe que por duas horas mantivesse o aparelho desligado porque estava clonado. O mesmo aconteceu com a irmã. Só quando ocorreu à mãe entrar em contato com o namorado da filha "seqüestrada", tranqüilizou-se — ela se encontrava a seu lado, sã e salva.

Além desses e outros casos idênticos, há os daqueles que por pânico cedem à pressão, entregando laptops, celulares e principalmente dinheiro. Zeca Borges acha um erro e aconselha chamar a polícia. Por rastreamento ela já conseguiu descobrir a origem de muitas chamadas. Em geral, os telefonemas são feitos por bandidos de dentro de presídios. Como defesa contra o golpe, o melhor é não atender ligações feitas a cobrar e, se atender, desligar logo, sem conversa. Nem sempre eles detêm informações completas sobre a família, mas, na aflição, e sem querer, as vítimas acabam ajudando-os a completá-las.

Não se sabe por que as autoridades policiais não alertam a população, orientando-a para se defender dessa prática, que está se espalhando. Talvez por medo de estimular o pânico. Mas é pior, porque as pessoas se sentem cada vez mais indefesas e sem saber como agir.

(Antes de terminar este artigo já houve outro telefonema aqui para casa. Agora dizendo ser da Polícia Militar).

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