Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 13, 2006

Tereza Cruvinel Bombas voadoras

O GLOBO

Com a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, contra a “organização criminosa” representada pela associação PT-Marcos Valério-Banco Rural, a oposição voltou a falar no impeachment do presidente Lula, mas admite que inexistem as condições politicas para a iniciativa. Por isso mesmo, seguirá explorando seu plano Dresden, de bombardeio ininterrupto do governo, agora mirando o ministro da Justiça.

Muitos senadores falaram ontem sobre a existência de condições jurídicas para o impeachment, embora o procurador não lhe tenha imputado responsabilidades. Líderes como José Agripino (PFL) e Arthur Virgílio (PSDB) chegaram a dizer isso ao próprio ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que andou visitando a oposição. Tucanos e pefelistas reconhecem, entretanto, que a viabilidade de um pedido de impeachment depende também da existência de um clamor popular que resulte em pressão sobre o voto dos congressistas. No quadro atual, com o presidente dispondo ainda de alta popularidade, diz um deles, propor o impeachment seria uma estupidez. O pedido seria arquivado e isso ainda poderia soar como um atestado da inocência de Lula.

Para alterar o quadro, só o surgimento de novas e graves revelações, pelas investigações que o procurador continuará comandando. E o aumento do desgaste de Lula, pelo sangramento continuado, agora representado pelo ataque ao ministro Márcio Thomaz Bastos. Sua eventual saída deixaria Lula mais só e o governo mais fraco.

— Eu sei, ele sabe, todos sabem qual é o objetivo da oposição. Não vamos fazer o jogo da oposição — disse Lula anteontem.

Oficialmente, a oposição quer saber se Lula prevaricou, deixando de demitir Palocci mesmo após tomar conhecimento de seu papel na quebra do sigilo bancário do caseiro Nildo. A cronologia dos fatos que o ministro da Justiça deve apresentar ao Congresso em seu depoimento na semana que vem divergirá das narrativas em circulação, que fundamentam a ofensiva da oposição. Dizem elas que Lula foi informado no dia 23 de março, por Thomaz Bastos, do envolvimento de Palocci mas só o demitiu no dia 27, depois que Jorge Mattoso revelou à PF ter entregado o extrato da conta ao ex-ministro.

De fato, foi na noite deste dia que Thomaz Bastos disse a Lula que Palocci precisava deixar o governo. Tem contado que, procurado por Palocci, recomendou-lhe um advogado. “Não posso me envolver, devo lealdade ao presidente”, teria dito. Indicou Arnaldo Malheiros e participou do encontro deste com Palocci e Mattoso. À noite, repetiu a advertência a Lula, na frente de Palocci, que teve sua sorte selada. Deixaria o governo mas era preciso preparar a sucessão e tranqüilizar o mercado, alegou. No dia seguinte, sexta-feira, 24, disse a Lula, iria ao evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos em São Paulo. Foi. Lá, fez o discurso que muitos empresários interpretaram como de despedida. Declarou-se no quarto inferno de Dante, embora a economia seguisse em céu de brigadeiro. Tão estável que suportaria, insinuou, até mesmo sua saída. Queixou-se da radicalização e do uso da vida pessoal na luta política.

Lula já se fixara em Mantega, nome que circulava no noticiário como substituto. Trataria disso a partir de segunda-feira mas neste dia Mattoso precipitou tudo com seu depoimento.

Por esta versão, a oposição não pegará Lula mas produzirá desgaste, que já apareceu na pesquisa CNT/Sensus.

O PFL do Rio fará convenção no início de maio para oficializar a candidatura de Eider Dantas ao governo do estado. “É para espantar as especulações”, diz Rodrigo Maia.

Trocando a pilha

Geraldo Alckmin começa amanhã sua nova agenda de campanha. E começa pelo Nordeste, maior reduto de Lula. Depois de visitar o Porto de Suape, em Recife, com o governador Mendonça Filho e seu coordenador de campanha, Sérgio Guerra, vai para Nova Jerusalém, assistir à encenação da Paixão de Cristo.

Na terça-feira que vem, jantar com toda a bancada do PFL na Câmara, na casa do deputado Osório Adriano. Precisa conhecer os aliados e a situação de cada estado.

Tucanos e pefelistas concluíram que a campanha anda muito solta. Candidatura precisa ter pai e mãe.

Dornelles: O buraco é outro

Para o deputado e ex-ministro Francisco Dornelles o governo Lula está cometendo um equívoco brutal no encaminhamento da crise da Varig. Diz ele.

— O problema da Varig não é só financeiro, é estratégico para o país, social e economicamente. Se existisse solução fácil de mercado, já teria surgido. Já perdemos nossas empresas de navegação, agora vamos perder a maior de aviação? O presidente Lula diz que não é papel do governo salvar empresas privadas da falência. Pensando assim, o presidente FH não teria feito o Proer. Não o fez para dar dinheiro a bancos, mas para evitar a quebra do setor bancário e perdas para os correntistas.

Depois, diz ele ainda, o governo deve uma fábula para a Varig, decorrente da ação judicial que a empresa ganhou e os funcionários estão aceitando receber a dívida trabalhista em ações.

ALCKMIN teve um pequeno crescimento no Nordeste entre a última pesquisa CNT/Sensus (fevereiro) e a desta semana. Passou de 5,9% para 8,7%, destaca Jorge Rodini, da Consultoria Engracia. Ao contrário do que foi dito aqui, a consultoria analisa pesquisas, mas não para os tucanos.

Arquivo do blog