Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 01, 2006

A SAÍDA DE SERRA

EDITORIAL DA FOLHA

 No dia 14 de setembro de 2004, o então candidato do PSDB ao Executivo paulistano subscreveu a seguinte declaração: "Eu, José Serra, comprometo-me, se eleito prefeito do município de São Paulo no pleito de outubro de 2004, a cumprir os quatro anos de mandato na íntegra, sem renunciar à prefeitura para me candidatar a nenhum outro cargo eletivo". Quebrou o compromisso aos 15 meses de gestão, a fim de pleitear o governo do Estado.
Mesmo se não houvesse o documento (assinado em sabatina promovida por esta Folha) nem palavra empenhada, a saída de Serra seria ruim para São Paulo. Administrar uma cidade cuja população supera a de Portugal ou a da Suécia, por exemplo, já é um desafio em si. O volume e a complexidade dos problemas urbanos da capital paulista só tornam mais custoso aos munícipes qualquer ato que implique descontinuidade e/ou incerteza administrativa.
Os tucanos negociaram uma tutela sobre o vice que assume, Gilberto Kassab. Mas, até porque esse tipo de acordo tende com o tempo a tornar-se letra morta, ele não apaga as dúvidas sobre o futuro da administração. A pouca experiência no Executivo municipal do pefelista está associada a um governo particularmente desastroso não apenas no campo ético.
Ao deixar o posto, José Serra viola o que, do ponto de vista dos princípios, teria sido melhor preservar. Mas seu movimento é apenas mais uma prova de que a política é exercida em um ambiente instável, no qual os parâmetros mudam sem cessar e as conveniências freqüentemente suplantam os princípios.
Se a eleição fosse hoje, de acordo com o Datafolha, o desempenho do PSDB no pleito estadual passaria da derrota certa à vitória folgada, em primeiro turno, com a presença de Serra como candidato. O partido enxerga no ex-ministro da Saúde uma grande probabilidade de conquistar pela quarta vez consecutiva o cargo responsável pelo segundo maior orçamento da República.
Caberá ao eleitor paulista -decerto instado pelos adversários de Serra na campanha- a decisão de punir ou não o postulante do PSDB por ter quebrado o compromisso de permanecer prefeito até 2008.

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