Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 12, 2006

Riscos para Lula

Riscos para Lula

EDITORIAL
O Globo
12/4/2006

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido a liderança nas pesquisas eleitorais, com razoável margem à frente do candidato tucano Geraldo Alckmin. Pode ser que a sondagem divulgada ontem pela CNT/Sensus, em que Lula, de fevereiro a abril, caiu 4,7 pontos, enquanto o adversário subiu 3,2 pontos, 0,2 acima da margem de erro, cause certa preocupação no Palácio do Planalto. Há analista que identifica algum efeito radioativo da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo.

Porém, ainda é cedo para análises e projeções definitivas do que acontecerá nas urnas. Mas chama a atenção que pelo menos até agora — salvo confirmação da tendência esboçada por esse último levantamento — a candidatura de Lula tenha se mantido relativamente incólume à corrosão pública causada pelo escândalo do mensalão. Considerando que há uma natural desinformação sobre fatos políticos nas faixas de renda mais baixa, é em parte surpreendente que 79% dos ouvidos pelo Datafolha digam haver corrupção no governo e, desses, 37% atribuam a Lula "grande responsabilidade pelo problema".

E surpreende ainda mais que, mesmo assim, o projeto da reeleição continue bastante viável. Há várias explicações para esse aparente paradoxo. Uma delas, o bom momento da economia, é indiscutível. Com todas as dificuldades decorrentes de distorções fiscais e monetárias, o Brasil tem conseguido se aproveitar da rara onda de crescimento mundial sincronizado. As exportações continuam a se expandir, apesar da valorização do real; a inflação converge para a meta anual de 4,5% e, por decorrência, o poder aquisitivo da população se mantém. Tudo somado faz a economia acelerar o crescimento.

A boa notícia esconde uma armadilha para Lula. Se, em meio a algum susto eleitoral, ele radicalizar no populismo — na linha do aumento real dos benefícios previdenciários —, jogará fora o grande trunfo que é uma economia estabilizada. Riscos existem, pois os gastos correntes continuam em alta, em que pesem todos os alertas. O grande teste do ministro Guido Mantega será evitar o descumprimento da meta de 4,25% do superávit primário. As chances da reeleição dependerão bastante da eficiência do recém-empossado ministro.

 
 

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