Os dois Brasis do ano eleitoral |
editorial |
O Estado de S. Paulo |
18/4/2006 |
Pesquisa depois de pesquisa - encomendadas pelo governo ou pela oposição para consumo próprio - atestam a satisfação da maioria do eleitorado, não apenas entre os mais pobres, mas também nos estratos médios da população, com o desempenho do governo nas áreas econômica e social. As sondagens captam um estado de espírito e um clima de opinião reminiscentes dos que asseguraram a vitória de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno do pleito de 1994 - na esteira do Plano Real que o seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva, fiando-se em maus conselheiros, dizia ser um golpe eleitoral de vida curta. Esse feel-good factor, como dizem os analistas, é consistente com o que se lê nas páginas econômicas da imprensa sobre os indicadores do desempenho do sistema produtivo, do comportamento dos preços e das expectativas dos brasileiros em relação a emprego, renda e consumo. Uma coisa e outra sustentam o prognóstico segundo o qual, salvo algum imprevisto político pouco provável após o desligamento do presidente da "quadrilha" denunciada pelo procurador da República, a reeleição de Lula é, neste momento, o desfecho mais provável da eleição presidencial de outubro. "A correlação do índice de confiança do consumidor com a popularidade do governo costuma ser alta", diz o economista Emílio Alfieri, citado pelo jornal Valor. No caso, bem entendido, com a popularidade - pessoal e intransferível - do presidente. À parte o fato desalentador de que uma proporção talvez significativa dos votantes tenha "sublimado", como diria o ex-deputado Roberto Jefferson, a catástrofe ética do governo Lula, desponta disso tudo um paradoxo. Trata-se de uma realidade que passa despercebida do grosso dos eleitores: descontados os seus atributos carismáticos, Lula pavimentou o caminho para o segundo mandato que se anuncia com a "herança maldita" que recebeu e teve a sagacidade de manter e mesmo acentuar - seja na austeridade fiscal, seja no campo das políticas sociais. Esta semana os spots da propaganda petista começarão a martelar um bordão: o cotejo das supostas realizações do atual governo com as que teriam sido "do governo de Fernando Henrique e Geraldo Alckmin". É uma contrafação como poucas vezes se terá visto. Ou alguém imagina que se Lula tivesse seguido a rota da ruptura com as diretrizes do antecessor, defendida por tantos de seus companheiros - "mudar tudo isso que está aí" -, teria colhido os resultados que não se cansa de apregoar? Muito menos ao alcance do eleitor comum é o estado periclitante em que se encontra a dimensão decerto a mais crucial do patrimônio transmitido pelos anos Fernando Henrique - a busca da sustentabilidade das finanças públicas. Não é preciso ser catastrofista para temer - principalmente depois da substituição de Antonio Palocci por Guido Mantega, no Ministério da Fazenda - a dissipação do que se conseguiu fazer nessa matéria, ao deparar com as declarações do economista Fábio Giambiagi, um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, publicadas domingo no Estado. As suas palavras se sustentam em números inquietantes sobre a explosão do gasto público sem retorno, em contraste com a esqualidez dos investimentos estatais em infra-estrutura. "Estamos na marca do pênalti na área fiscal", alerta. Não apenas talvez não se cumpra este ano, pela primeira vez desde 1999, a meta do superávit primário de 4,25% do PIB, como o aumento constante do custo do sistema previdenciário - de 6,5% para quase 8% do PIB em menos de quatro anos - deixa o Estado sem meios de "ampliar o espaço de crescimento futuro da economia", aponta Giambiagi. Num país cuja classe média "acha natural se aposentar aos 50 anos", critica ele, o governo se vê diante de três alternativas teóricas para conciliar o inconciliável. Ou aumenta ainda mais a carga tributária - o que tem chance zero -, ou reduz o superávit - impedindo a queda da relação dívida/PIB, o indicador mais importante para o País -, ou faz com que o gasto corrente cresça menos que a economia - o que Lula finge que não é com ele. Esses os dois Brasis do ano eleitoral. O primeiro dá votos para a reeleição. O segundo permite entender por que a China e a Índia crescem como crescem e o País, deplora Giambiagi, "tenha este crescimento rastejante".
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 18, 2006
Os dois Brasis do ano eleitoral
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