Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 14, 2006

LUÍS NASSIF A imolação da Varig

FOLHA

  Não tem cabimento essa processo de imolação de Varig. Os defensores do fim da Varig se baseiam em princípios incorretos, em preconceitos que impedem de enxergar a solução que seja melhor para todos: funcionários, credores e país.
Engano 1 - se uma empresa é operacionalmente viável, mesmo que o resultado operacional seja insuficiente para pagar as dívidas, fechá-la significará aumentar o prejuízo dos credores. É por isso que, no limite, credores aceitam deságio do que têm a receber, entregando os anéis para não perder os dedos. Com a Varig fechada, todos perderão anéis e dedos. A dívida continuará a mesma, mas o valor da companhia virará pó.
Engano 2 - supor que os males que afligem a Varig são de responsabilidade geral de todos os funcionários. O problema da Varig é governança, um esquema de poder torto que permitiu a um grupo se encastelar no seu comando e depená-la. Sem a Fundação Ruben Berta, a Varig é uma empresa plenamente viável, com valores corporativos que não foram contaminados, na base, pela ação deletéria de seus gestores.
Engano 3 - uma empresa não pode ser avaliada pelos seus ativos fixos. Se fosse assim, bastaria fechar a empresa e ratear os ativos entre os credores. Mas se trata de uma forma contabilmente arcaica de medir valor. A Varig vale menos por suas instalações, vale mais pela sua tripulação, pela equipe de manutenção, pela parte administrativa, pela estrutura comercial, pela operação em vários países e em várias cidades do país. Tudo isso virará pó se a empresa for fechada.
Engano 4 - como o mercado está crescendo, não haverá problema social com os 11 mil funcionários que serão desempregados. Ledo engano! Há direitos trabalhistas relevantes que desaparecerão em caso de fechamento da companhia, carreiras serão ceifadas, com funcionários experientes tendo que recomeçar em cargos menores em outras companhias, com outra cultura.
Por isso mesmo, não era hora de a Secretaria de Previdência Complementar intervir no fundo Aerus, o grande instrumento de que dispunham os funcionários para impedir o fim da companhia.

Fantástico e Suzane
Recebo e-mail de Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo, em relação às críticas que fiz ao "Fantástico", por ter divulgado as orientações do advogado a Suzane von Richthofen.
Infelizmente, o espaço da coluna é insuficiente para dá-lo na íntegra. Segundo ele, não houve propósito de gravar a orientação do advogado à cliente. Só perceberam posteriormente, "não tendo havido, portanto, nenhuma invasão de privacidade". A invasão não consiste em gravar inadvertidamente conversas de terceiros, mas em divulgá-la.
Indaga ele, no final: "Diante de suas indagações, fico imaginando como você teria agido: publicaria a entrevista escondendo o que estava por trás dela? Duvido". Certamente teria mencionado a encenação, mas contextualizado, explicado ao telespectador a dificuldade de montar uma linha de defesa com uma opinião pública que já prejulgou. Agora, ao longo da minha carreira, tomei a decisão de jamais publicar conversas em que o entrevistado não fosse expressamente informado de que as declarações seriam publicadas com menção da fonte.
Em todo caso, é uma discussão que merece ser ampliada.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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