PT retoma estilo do confronto em publicidade eleitoral, sem as fantasias de Duda
Semana que vem o PT tem um bom desafio pela frente: vai testar, em 30 comerciais do partido na televisão, sua propaganda eleitoral em clima de mudança total. Sem os efeitos especiais de Duda Mendonça, retomando o estilo do confronto abandonado na eleição de 2002, enaltecendo a marca de defensor dos pobres, buscando fixar a imagem de campeão da eficiência em toda a História do Brasil.
Tudo isso tangenciando a crise, sem assumir a parte que lhe cabe no latifúndio dos escândalos e, claro, atribuindo as agruras do partido à vilania da oposição.
É um mosaico de alvos e intenções realmente muito mais complicado de manejar que a idéia força da esperança vendida por Duda quatro anos atrás numa embalagem que, além de luxuosa, foi preparada à imagem e semelhança das coisas que as pessoas queriam ouvir na época, exaustas da mesmice, ávidas para experimentar "o novo" lado da moeda da política.
O PT não transitará mais no terreno seguro do maniqueísta "bem contra o mal", no qual atuou quando era oposição, nem contará com a boa vontade popular que, hoje, já não está mais na posição de consumidora esperançosa do paraíso.
A questão posta para o PT é a de conseguir convencer as pessoas a renovarem a esperança junto com um julgamento positivo sobre os quatro anos do governo Lula e, ao mesmo tempo, ter sucesso na tarefa de mostrar que nenhum dos candidatos de oposição terá como fazer mais bem feito.
Muitos governistas acreditam que a eleição será decidida não em função da melhor ou pior atuação dos oposicionistas. O fator decisivo, de acordo com essa análise, é o desempenho do governo. Se for bom, ganha de qualquer um; se for ruim, perde para quem quer que seja.
De acordo com esse critério, por mais razão é importante o primeiro teste da propaganda do PT: se der certo, o partido terá encontrado um caminho para enfrentar seus adversários; se não convencer, terá de rever os planos. Tempo há, é preciso ver se haverá disposição de lidar objetivamente com a realidade.
E os fatos, sempre mais cruéis que os planos, remetem a problemas. De imediato, dois se apresentam: primeiro, a retomada do velho perfil confrontador, a bordo do qual o PT perdeu três eleições presidenciais.
O "sonho" edulcorado por Duda Mendonça era muito mais palatável à média do eleitorado; em segundo lugar, há o problema da quebra da relação de confiança entre o PT e o eleitorado.
O partido pode até tentar transferir à oposição todos os seus males, mas é preciso ver se a maioria do eleitorado estará disposta a acreditar. Se estiver numa maré de credulidade, tudo bem.
Mas, se a vontade for de questionar e discernir, provavelmente a tendência do eleitor será a de desconfiar do PT, na suposição de que o partido esteja querendo enganá-lo por meio da negativa da realidade posta diante de seus olhos e ouvidos.
A propaganda é poderosa como arma de convencimento. Mas além dela e do amor há, como dizia o dramaturgo francês Jean Anouilh, a vida, "essa inimiga", para contrariar, ou comprovar, os raciocínios e os desejos.
Variações
A entrada de Itamar Franco no cenário da sucessão presidencial impressiona, mas não passa de mera impressão. A respeito da sua alegada intenção de disputar com Anthony Garotinho a indicação do PMDB para candidato à Presidência da República, circulam as mais variadas versões.
Todas razoavelmente sensatas, mas nenhuma delas real à luz da objetividade. A mais difundida diz que Itamar está a serviço do Palácio do Planalto para implodir a candidatura própria do PMDB. Como "prova" é apresentada a visita de José Dirceu ao ex-presidente horas antes de Itamar ter dito a Garotinho que pretende mesmo ir à convenção do PMDB em busca da legenda para se candidatar e depois negociar o lugar de vice na chapa da reeleição.
Tal versão padece de alguns defeitos. Primeiro, não combina com o fato de Itamar ter sido lançado por Orestes Quércia a partir, segundo o próprio, de uma idéia do senador Pedro Simon. Como se sabe, tanto Quércia quanto Simon militam na oposição a Lula.
Em segundo lugar, a visita de Dirceu parece mais teatral do que realmente motivada por uma articulação política com vistas a resultados.
Se estivesse realmente de posse de uma missão palaciana, se fosse um emissário de Lula para pedir que Itamar entrasse no páreo, o ex-deputado não se movimentaria tão abertamente, muito menos o faria exatamente no dia em que Itamar receberia Garotinho em Juiz de Fora, com ampla cobertura da imprensa.
Terceiro, tudo o que Lula não precisa agora é de mais um dado de comparação com o governo Fernando Collor, ilação inevitável se pretendesse fazer de Itamar - o vice de Collor - seu companheiro de chapa.
Da diversidade de versões, a única hipótese verossímil é a de sempre: Itamar surge no cenário para confundir e aguardar que, da confusão, nasça uma oportunidade razoavelmente segura. Seja ela uma candidatura qualquer em Minas Gerais ou um bom cargo no próximo governo.