Em 1960, estudante da minha Faculdade de Direito, a do Recife, tocou-me saudar Miguel Reale, que nos daria aula, a convite de seu colega, o também filósofo do Direito, Lourival Vilanova.
Sentia-me honrado e intimidado. A timidez passou, pois a honra era maior.
Resultou que ficamos amigos e parecia, mais tarde percebi, ser mais fácil para mim que ficássemos confrades na Academia Brasileira.
Na hora, imaginei ver as Arcadas dentro do salão nobre da Casa de Tobias, representadas pelo mestre junto a quem todos aprendíamos, mas protagonizava-se o Homem.
Recordo a cena por inteiro e penso que o escuto agora na recomendação de que devemos sempre repensar; que o jurista não deve despegar-se da realidade concreta, do seu meio social de peculiaridades e circunstâncias, na tensão que o divide entre o abstrato e o concreto; que se seja atento ao contraste do amor do fato contingente e do amor pelos esquemas normativos em que resplende o sentido lógico da ordem.
Quarenta e seis anos depois, a lição tem a limpidez do limpo na minha lembrança. Daquele tempo até hoje, só fiz admirá-lo no calibre do cada vez mais.
Essas virtudes humanas são patrimônio de todos nós, seus confrades de Academia, sobretudo tendo a sua ausência a presença desta reflexão: "A morte é um comando de amor para os que sobrevivem, uma exigência para que se dê continuidade àquilo que antes se fazia binada à nossa nosa ocupação, como se uns passassem a trabalhar e um a inspirar."
*Presidente da Academia Brasileira de Letras