FOLHA
SÃO PAULO - A história da falência da Varig tem certo ponto de contato com a história do Brasil. Enquanto havia "céu de brigadeiro" (com perdão pelo lugar-comum óbvio), a Varig conseguiu crescer a ponto de se tornar uma bela empresa.
O Brasil, mesmo com céus mais turbulentos, também teve longa fase de crescimento. Mas uma e outro tinham, como continuam tendo, lacunas graves. No caso do Brasil, uma desigualdade obscena, uma massa de pobres, nível educacional lamentável etc. No caso da Varig, incapacidade para enfrentar o mundo quando ele se tornou cruel.
Aí, a história do Brasil e a da Varig se encontraram, para azar da Varig. Não deram certo nem gestão privada nem apoio estatal (de diferentes maneiras) nem se deixou dar a solução sempre cruel de mercado (quebrar) nem mesmo se conseguiu vender a empresa.
Ou, posto de outra forma e simplificando um pouco as coisas, não se pode acusar, pelo fracasso da Varig, nem o estatismo de que tanto se queixam os liberais nem o mercado, o ogro eterno do pouco que restou de esquerda.
No fundo, o problema, do Brasil como da Varig, é de instituições, no mais amplo sentido da palavra. Instituições sólidas e bem desenhadas incluem uma administração eficiente e ágil, capaz de aproveitar os ativos da companhia adequadamente. Incluem também regras de jogo igualmente eficientes, ágeis, claras, tão permanentes quanto possível.
Se é para pôr dinheiro público, deveria ter sido posto lá atrás, quando ainda havia uma chance, talvez remota, de salvar a empresa. Se era para quebrar (ou vender para uma aérea estrangeira), idem, na mesma data. Não sei, francamente, qual a melhor das duas possibilidades. Sei qual a pior: arrastar o cadáver exangue indefinidamente.
É um pouco como o Brasil: nem quebra nem alça vôo seguro (e com todos os passageiros decentemente tratados a bordo).
@ - crossi@uol.com.br
Entrevista:O Estado inteligente
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