O Estado de S. Paulo |
18/4/2006 |
Paris está pacificada. Acabaram-se as manifestações que os sindicalistas e os estudantes da Sorbonne promoveram por mais de um mês. Voltou a ordem e não há mais nem o quebra-quebra nem os incêndios de veículos que tomaram os subúrbios da cidade. Mas o principal problema ficou sem solução. Na semana passada, o governo do primeiro-ministro Dominique de Villepin voltou atrás e removeu a Lei do Contrato do Primeiro Emprego, que havia sido aprovada no Parlamento. Com isso, as empresas não poderão mais contratar funcionários de menos de 25 anos de idade com a vantagem de poder demiti-los sem pagar indenização até dois anos depois de admitidos. A idéia era flexibilizar a lei trabalhista vigente para aumentar as contratações e o emprego. Mas os sindicatos e os universitários viram nessa flexibilização o primeiro passo em direção a um buraco negro que desembocaria na perda dos direitos trabalhistas e na volta às relações medievais de trabalho. Não há a menor dúvida sobre quem venceu a batalha. A revogação da lei já diz tudo. Mas convém empregar aqui certa dose de tautologia: como a lei veio para resolver um problema, a revogação da solução do problema deixou o problema sem solução. O problema está em que, nos dez novos países integrantes da União Européia, os salários atuais são uma fração dos que se pagam na França. Na China e em vários outros países asiáticos são mais baixos ainda. Os novos recursos tecnológicos permitem a migração imediata de empresas (especialmente indústria) para países onde são menores os custos da mão-de-obra, da energia e da infra-estrutura. Essa é a principal explicação para o fato de o índice de desemprego na França ser hoje de 9,4%, bem maior do que os 6,9% da média da OCDE (países mais ricos). Como o jornal parisiense Le Monde apontou na edição de domingo, os desempregados com mais de 12 meses parados correspondem a 41,6% do total (e de 32% na OCDE). Mais ainda, em 2004, o desemprego entre os jovens era de 21% do total (e não passava de 13,4% na OCDE). Isso significa que a sociedade francesa não tomou consciência das conseqüências da globalização sobre os fatores da produção e sobre o mercado de trabalho. Ela parece não se ter dado conta do que se passa no resto do mundo. Quando um produto chinês chega muito mais barato a qualquer porto do mundo (e não só em Marselha) alija ou fecha definitivamente as portas para um sucedâneo francês. Se o custo da mão-de-obra francesa tem de continuar o mesmo (ou até mais alto), são empregos na França que estão morrendo. "Nenhuma sociedade desenvolvida pode funcionar sem fluidez no seu mercado de trabalho", lembra Hubert Kempf, professor de Economia, na Sorbonne. Levadas às últimas conseqüências, a vitória dos sindicatos franceses na Lei do Contrato do Primeiro Emprego conduz ao protecionismo e ao nacionalismo. Mas isso não acaba aí. Um Estado pode proteger seu próprio mercado das importações de mercadorias, da imigração e da dança dos capitais. Mas não cria mercado externo. Ao contrário, a proteção puxa os custos internos e tira competitividade do produto nacional. É evidente que as perguntas não terminaram. Até que ponto é sustentável o atual modelo de desenvolvimento econômico, o mesmo que está sendo exportado pelos países ricos (França inclusive) e abraçado pelas potências emergentes asiáticas? Até que ponto a inclusão de 30 milhões de chineses por ano ao mercado de trabalho e de milhões de outros no resto do mundo será suportada pelo mundo rico? Não há resposta fácil para essas perguntas. Discursos e um megaarrastão pelas capitais chiques do mundo não passam de esperneio e gritaria.
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 18, 2006
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