Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 14, 2006

VEJA Tales Alvarenga Marx e o fujão



"Desconfio que Dirceu não seja sequer
comunista nem tenha jamais sido. Minha
opinião é que não passa de um oportunista.
Talentoso, mas oportunista assim mesmo"

José Dirceu diz agora que a direita e a imprensa inventaram a história da roubalheira petista para derrubar Lula. Diz que alguns colunistas são dedos-duros. Agem como agiam os que, na ditadura militar, denunciavam esquerdistas para vê-los torturados e assassinados. Cita nominalmente como dedos-duros dois colunistas de VEJA, Diogo Mainardi e eu. Segundo Dirceu, a imprensa brasileira vive uma fase macarthista.

Eis aí mais uma prova da sua desonestidade intelectual. O senador americano Joe McCarthy comandou uma caça aos comunistas que dizia estarem infiltrados no governo e na vida cultural americana nos anos 50. Na ditadura brasileira, comunistas eram torturados e mortos. O regime os considerava inimigos de guerra.

Ser comunista no Brasil de hoje é um título que não constrange e até promove socialmente seu portador. O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, é do Partido Comunista do Brasil. O partido da senadora Heloísa Helena, o P-SOL, está carregado de marxistas, trotskistas e gramscianos. Entre funcionários do governo, professores universitários e líderes dos sem-terra, milhões de brasileiros falam até com certo exibicionismo de sua admiração por Marx, Lenin, Fidel, Guevara, Mao. Ser comunista no Brasil é perfeitamente legal e respeitável. Tanto que milhares deles foram parar no governo. Então, o que Dirceu quer dizer com macarthismo na imprensa?

A imprensa flagrou ladrões no governo que, para surpresa de todos, eram justamente esquerdistas que faziam questão de afirmar sua superioridade moral e ética sobre as outras pessoas. Todos os brasileiros, inclusive os esquerdistas, espantaram-se com a expertise demonstrada pelos petistas a respeito das técnicas da ladroagem. A mídia denunciou os contraventores. É isso que Dirceu não engole.

Mas ele não pode se queixar. Tem muitos admiradores cegos na imprensa. Mesmo já desmoralizado, na véspera da cassação de seu mandato, foi apresentado em artigos simpáticos como combatente incansável, guerrilheiro, herói que participou corajosamente da luta contra a ditadura. Denunciei essa rede de proteção e, por isso, Dirceu me chama de dedo-duro.

Dirceu foi preso num congresso estudantil, quando era universitário. Além de discursos irados, nunca fez um gesto mais decisivo como tantos comunistas fizeram na época para derrubar o governo militar. Foi banido para Cuba, onde ficou de 1969 a 1975. Voltou clandestinamente para o interior do Paraná e ali viveu sob o disfarce de um comerciante judeu. Casou-se, teve um filho, abriu uma loja de roupas. Nunca falava de política. Em 1979, o general João Figueiredo o anistiou. Só aí Dirceu saiu da toca. Nisso consiste seu tão celebrado "passado histórico". Dez anos como fujão.

Demonstrou bom senso ao não aderir à luta armada. Estaria morto hoje. O desonesto não é a escolha do caminho pacífico. O desonesto é deixar (estimular) que companheiros de viagem teçam uma mitologia heróica, totalmente falsificada, em torno de seu passado. Desconfio que Dirceu não seja sequer comunista nem nunca tenha sido. Minha opinião é que não passa de um oportunista. Talentoso, mas oportunista assim mesmo.

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