Apesar do coma do primeiro-ministro, seu partido cresce nas pesquisas eleitorais
Fotos Shizuo Kambayashi/AFP e Nicolas B. Tatro/AP![]() |
| Herdeiro presumível: Olmert (à esquerda) saiu do Likud para criar novo partido com Sharon (à direita). Na ausência do chefe, pode ser eleito primeiro-ministro em março |
Com seu barrigão, discurso rude e um currículo militar de grandes feitos, mas perigosamente próximo ao de um criminoso de guerra, o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon apresentou, na última fase de sua carreira, algumas idéias bem recebidas por seus concidadãos. Quem fala em "era Sharon" refere-se basicamente a três coisas: à retirada unilateral dos territórios ocupados, à evacuação de colônias e à construção de um muro para separar judeus e árabes. Qual o futuro dessa política sem o seu mentor? A julgar pelas pesquisas eleitorais divulgadas na semana passada, os israelenses querem seguir nessa linha. Se as eleições fossem hoje, o Kadima, partido que Sharon fundou pouco antes do derrame que, na sexta-feira passada, ainda o mantinha em estado de coma, teria 44 das 120 cadeiras do Parlamento, duas a mais que na pesquisa anterior. Seus adversários, capitaneados pelo ex-primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, acreditam que o crescimento seja o efeito passageiro da comoção causada pela doença de Sharon – mas pesquisas de opinião pública apontam em outra direção.
Ao criar o Kadima com moderados de direita e de esquerda, Sharon parece ter preenchido um espaço existente em Israel para um novo tipo de centro político. Ainda que, curiosamente, ele jamais tenha apresentado uma visão estratégica ampla que pudesse levar seu nome. Muita gente acredita que, não fosse a doença, ele teria começado a desmantelar as colônias judaicas que estão além do muro que segue bastante as fronteiras israelenses de 1967, mas também avança sobre fartos nacos de território palestino. É, mais ou menos, o que a maioria dos israelenses está disposta a aceitar em seu insolúvel conflito com os palestinos. De acordo com estudos da Universidade de Tel Aviv, dois terços dos israelenses aceitariam um Estado palestino ao lado de Israel. É o mesmo porcentual daqueles que não acreditam na possibilidade de um acordo negociado com os palestinos.
Sharon conciliou as duas idéias. Abrir mão de territórios – e com isso minimizar o perigo das duas bombas palestinas, a demográfica e a terrorista – e traçar a fronteira sem levar em conta a opinião do inimigo. O momento não é mesmo propício para negociações. Entregue aos palestinos, a Faixa de Gaza mergulhou na anarquia. Enfraquecido pelo caos e pelo avanço do fanatismo islâmico nas eleições locais, o presidente Mohmmand Abbas carece de autoridade para conversações de paz. O legado de Sharon pode estar se consolidando em torno do primeiro-ministro interino Ehud Olmert, preferido de 40% dos eleitores. Herdeiro de uma dinastia de políticos direitistas e ex-prefeito de Jerusalém, Olmert foi o primeiro a defender a necessidade de separar árabes e judeus a qualquer custo. Na dúvida, seus partidários querem manter o nome de Sharon na lista de candidatos. É difícil. Para concorrer, ele teria de despertar do coma a tempo de se inscrever para o pleito.