Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 21, 2006

VEJA Os pagamentos da Brasil Telecom a Roberto Teixeira

Pergunta sem resposta

Há registro de que o advogado
Roberto Teixeira, amigo de Lula,
recebeu 1 milhão de reais da Brasil
Telecom. Só não se sabe por
qual serviço prestado


Marcelo Carneiro

 

Norma Albano/Folha Imagem
Roberto Teixeira: recibos assinados pelo escritório do advogado dizem que trabalho está "sob sigilo"

Na última quarta-feira, a CPI dos Bingos jogou luz sobre dois dos maiores amigos do presidente Lula. A comissão, que investiga denúncias de corrupção atribuídas a dirigentes do PT, quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, e aprovou a convocação do advogado Roberto Teixeira, padrinho de um dos filhos de Lula. Okamotto é acusado de atuar, desde os anos 90, como arrecadador informal de campanhas petistas e foi autor de um pagamento ainda não esclarecido de uma dívida do presidente com o PT. No caso de Roberto Teixeira, o advogado será chamado a explicar seu envolvimento com a empresa Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), contratada sem licitação por seis prefeituras administradas pelo PT para prestar consultoria na área tributária. Mas Teixeira terá mais a esclarecer. VEJA teve acesso, na semana passada, a um conjunto de recibos emitidos pelo escritório do advogado, por serviços prestados à Brasil Telecom entre 2003 e 2004. Nesse período, a telefônica era gerida pelo banco Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, que travava com fundos de pensão ligados ao governo federal uma disputa sangrenta pelo controle da empresa. Em setembro do ano passado, o Opportunity foi finalmente afastado do comando da companhia.

Os recibos, assinados pelo escritório Roberto Teixeira & Advogados Associados, têm valores que variam entre 50.000 e 105.000 reais. O conjunto que VEJA obteve reúne sete deles, dos quais três foram emitidos nos meses de abril, junho e agosto de 2003. Os restantes, em janeiro, março, abril e maio de 2004. O valor total é de 548.000 reais. O dinheiro repassado a Teixeira, no entanto, pode ser o dobro desse valor. Em novembro do ano passado, na coluna Radar, VEJA informava que o advogado tinha sido contratado pela Brasil Telecom como consultor por um ano e meio, em troca de 60.000 reais mensais. A soma total daria, portanto, cerca de 1 milhão de reais. Esse foi o valor lançado na contabilidade da empresa, como pagamento ao advogado.

Não há nos recibos emitidos pelo escritório de Roberto Teixeira nenhuma menção à natureza do trabalho encomendado. Pelo contrário. Tanto o advogado quanto a Brasil Telecom fizeram questão de firmar um compromisso de sigilo, como está descrito no texto dos recibos. Roberto Teixeira está se recuperando de uma cirurgia cardíaca. VEJA entrou em contato com o escritório do advogado para que fosse esclarecido o tipo de trabalho prestado para a telefônica. A informação foi que apenas o próprio Teixeira poderia falar sobre o assunto. A contratação de escritórios de advocacia, sem objetivo definido, é um dos mecanismos mais comuns usados no mercado do lobby de Brasília. Empresas enroladas com o governo costumam contratar advogados que não preparam uma petição sequer, mas têm amigos influentes no Planalto. O dinheiro pago aos escritórios serve para azeitar as engrenagens da burocracia.

Joedson Alves/AE
Paulo Okamotto: CPI quebrou o sigilo bancário de outro amigo de Lula


Agora, com a descoberta dos documentos e a convocação pela CPI, o amigo do presidente Lula terá de dizer aos parlamentares da comissão por que recebia dinheiro de uma empresa em litígio com o governo federal. O destino dos recursos também será levantado. "Por causa dessas novas informações, vamos agilizar a data em que Roberto Teixeira será ouvido na CPI. Marcaremos seu depoimento para daqui a, no máximo, dez dias. A quebra do sigilo bancário do advogado e de suas empresas será uma conseqüência natural de seu depoimento", diz o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB). Não é a primeira vez que Roberto Teixeira causa embaraços a Lula, a quem o empresário já emprestou uma casa, por quase nove anos, sem cobrar nada. Em 1997, o economista Paulo de Tarso Venceslau, então um militante petista, denunciou que o advogado usava o nome de Lula para convencer prefeituras administradas pelo PT a fechar contratos com a empresa CPEM. O caso gerou uma investigação interna no partido. A conclusão foi que a empresa se conduziu "de forma ilegal, imoral e criminosa", mas os dirigentes petistas armaram uma pizza e o único punido foi Venceslau, que acabou expulso da legenda. "No dia em que vierem à tona as operações do Roberto Teixeira, muitos dos recentes mistérios e escândalos do PT serão desvendados", diz o economista.

 

Arquivo do blog