"Em ano eleitoral, os parlamentares costumam voltar das férias com um razoável conhecimento do que se passa em suas bases.
Conversas com prefeitos e deputados estaduais, passeio na rua, visita a feiras livres e centros comerciais, fim de semana na praia, enfim, tudo contribui para informar suas Excelências sobre o que o distinto público está pensando.
Este ano, pelo visto, uma epidemia atacou os nobres parlamentares. Esta doença se chama "medo de urna". Neste ano eleitoral, o "medo de urna" se agravou, porque nunca houve uma crise política dessas proporções, e acompanhada em tempo real pela população.
CPIs sendo transmitidas o dia inteiro. Rádios, TVs, TV Câmara, TV Senado, Internet, blogs, jornais e revistas vêm martelando a crise desde o início de junho, quando o ex-deputado Roberto Jefferson fez as primeiras denúncias sobre a existência do mensalão.
De lá para cá, ministros poderosíssimos caíram – um deles foi até cassado sob a acusação de chefiar o esquema do mensalão –, diretorias inteiras de estatais foram substituídas, vários presidentes de partido foram envolvidos no escândalo. Sem contar o PT, partido do governo e do presidente da República, que teve suas principais figuras atingidas pelo maremoto e a lama do mensalão.
Ex-presidentes da Câmara apanhados com a boca na botija ou renunciaram ou podem ter o mandato cassado, líderes partidários foram obrigados a renunciar ao cargo – e ao mandato, alguns deles.
Aviões cheios de dinheiro, malas cheias de dinheiro, cuecas cheias de dinheiro. Tudo isto, é bom repetir, transmitido para o país inteiro em tempo real, de todas as formas, por todos os veículos de comunicação.
O primeiro resultado de tudo, desse "medo de urna" modelo 2006 foi casa cheia na Câmara ontem. Com 493 deputados na casa, foi aprovado, em votação simbólica, o fim do pagamento de subsídios extras quando houver convocação extraordinária do Congresso.
Vitória da opinião pública, vitória da pressão da sociedade. Afinal, a sociedade é o verdadeiro controle externo do Legislativo.
Para hoje ficaram a discussão e a votação da redução à metade do recesso parlamentar, de 90 dias anuais, para 45 dias. Ainda é muito, porque os eleitores, esses têm 30 dias de férias por ano. Mas já é um grande avanço.
Tudo como resultado da síndrome do "medo de urna".
Afinal, estamos a menos de dez meses das eleições. E de eleições, suas Excelências entendem."
Enviada por: Ricardo Noblat