Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 10, 2006

JANIO DE FREITAS O emprego do chute

folha
O principal êxito apregoado pela publicidade do governo e, nos últimos meses, o mais citado por Lula -a "criação de novos empregos"- pode ser êxito da publicidade, mas não o é do governo nem, muito menos, da aritmética. Representado por totais que variam conforme a ocasião, em todos o êxito é feito com números inverdadeiros. É o que se constata, mais uma vez, no principal destaque da revista que a Presidência está lançando com 1,2 milhão de exemplares sobre os feitos do governo, como se vê, não necessariamente verdadeiros.
Acompanhada de uma música pop, a publicidade transmitida louva a criação, no governo Lula, de "mais de 3,7 milhões de novos empregos".
Lula, em discursos e entrevistas, varia nas referências, que podem ser a "mais de 3 milhões", "mais de 3,5 milhões" ou "quase 4 milhões", todos, sempre, de "novos empregos com carteira assinada".
A revista refere-se à "média de 100 mil novos empregos formais [ou com registro] por mês", como complemento da afirmação de que "mais de 3,5 milhões de novas carteiras de trabalho foram assinadas desde 2003". Aí já não se trata só de "novos empregos com carteira assinada" mas também de "novas carteiras", indicando que seus portadores, salvo os eventuais casos de segunda via, são pessoas que entram agora no mercado de trabalho.
Nenhum dos totais propagados é, de fato, de "novos empregos com carteira assinada". Em qualquer deles, há vasta proporção de empregos antigos que tiveram agora assinadas as respectivas carteiras, por motivos tão variados como fiscalização do INSS ou do Trabalho, prevenção de problemas sindicais, exigência para empréstimo pretendido pelo empregado, retribuição a tempo de casa e outros também comuns.
Sem referências às peculiaridades dos empregos, o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial calcula que foram criados 2 milhões desde 2003, o que já reduz a quase a metade "a média" citada pela revista da Presidência.
O professor José Pastore, reconhecida autoridade em economia do trabalho, conclui que "cerca de 45% dos empregos que tiveram carteira assinada são empregos já existentes, que receberam registro nos últimos três anos".
Quase metade dos "novos empregos com carteira assinada" está só nos discursos e na publicidade.
E o grande programa do Primeiro Emprego, um dos estandartes da campanha de Lula e lançamento retumbante no governo, para usar ainda uma expressão autorizada de José Pastore, "é um fiasco".
O que explica isso tudo é que no governo há muito mais emprego do que trabalho.

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