IGOR GIELOW O cavalo de Chávez

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BRASÍLIA - Três expoentes da "esquerda" latino-americana estiveram em Brasília nesta semana e deverão encontrar-se novamente amanhã para a posse do caçula do time, Evo Morales, na Bolívia. Lula, Chávez e Kirchner. Supondo que exista um ideal esquerdista no subcontinente, qual deles é seu melhor símbolo?
O petista não vai gostar, mas o fato é que Chávez leva o prêmio. Se alguém arranca suspiros dos corações jovialmente "revolucionários" que lotam repartições do governo Lula, ONGs diversas ou a festinha estudantil que virou o Fórum Social Mundial, é o coronel venezuelano.
Significativo que ele queira encarnar Bolívar. O "libertador" é o maior símbolo do fracasso sul-americano. Acredite-se ou não na nobreza de suas intenções, a herança mais pujante e duradoura de Bolívar foi no campo das disputas de poder de interesses locais e estrangeiros.
O resultado está aí: uma colcha de retalhos que vai dos Andes até a costa do Caribe e não sabe o que fazer direito ante o poderio que vem do Norte -o Norte simbólico, claro. Morales toma posse no mais atrasado desses rincões e busca em Chávez a inspiração para enfrentar a realidade. Talvez outros apareçam.
Mas Chávez tem algo a oferecer além de petróleo, discursos histriônicos e aquela "guayabera" vermelha horrorosa? Sua agenda é sustentável além dos limites dos petrodólares sobre os quais está entrincheirado?
Como a Embraer e o Itamaraty já descobriram, há limites práticos para a falácia. Mas o Brasil não é a América Latina, é um ente separado historicamente por cultura e política diversas, e assim continuará sendo.
O laboratório está além de nossas fronteiras. No máximo, Lula pode tentar pintar alguma das estrelas da bandeira do Brasil de vermelho, como Chávez quer fazer com que o cavalo no brasão venezuelano olhe para a esquerda. Como não pegou bem com a estrela da primeira-dama no jardim do Alvorada, talvez nem isso. A resposta sobre o que Chávez significa fica em aberto, para a história.