Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 03, 2006

ELIANE CANTANHÊDE O drama brasileiro

FOLHA
BRASÍLIA - "O drama brasileiro é que vocês nunca conseguiram fazer uma grande coalizão política unindo PT e PSDB", diagnosticou o chileno Gabriel Palma, professor de economia da Universidade de Cambridge, em entrevista à Folha de ontem. E o pior é que, quanto mais evidente o drama, mais improvável fica a coligação dos dois partidos.
Para chegar ao poder e mantê-lo, tanto FHC e o PSDB quanto Lula e o PT fizeram os mais deslavados acordos com partidos como PTB, PP, PL e ofertas do arco da velha para cooptar o PMDB. É daí que vêm as saídas mirabolantes a la Marcos Valério. E, enquanto as regras forem essas, assim será com qualquer presidente.
Sem uma aliança ideológica e programática, PT e PSDB vão continuar partindo para o vale-tudo, porque o risco é não ter maioria no Congresso. O que equivale a não governar.
Essas maiorias custam um preço altíssimo. Em dinheiro, em ministérios, em presidências e diretorias de estatais. A cada votação decisiva em plenário, negociatas de arrepiar os cabelos. Mas o preço muito mais alto nem é esse. É o preço da credibilidade, do respeito, da ética, da biografia.
Ao se desfiliar do PT, estrategicamente no primeiro dia no ano, o bom sujeito Francisco Whitaker, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB e do comitê organizador do Fórum Social Mundial, justificou: "O PT foi um sonho que desmoronou".
Poderia ter dito: "Mais um sonho". Como o PT era o último, não restou nenhum outro a sonhar. Whitaker, como milhões de eleitores, sai do PT mas não entra no PSDB e não tem entusiasmo pela reeleição de Lula -pode ser apenas o "mal menor".
O PTB, o PL, o PP, o PMDB e outros do gênero fazem a farra nas posses, usam até onde podem o PT e o PSDB e, depois, seguem o princípio da laranja chupada: expelem o bagaço.
Enquanto a tal coalizão PT-PSDB não vem, vamos viver assim. O pior é que ela ficará ainda mais distante na guerra eleitoral de 2006 e, muito possivelmente, nunca virá.
 

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