Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 24, 2006

Editorial de O GLOBO

Teste de ética

Editorial
O Globo
24/1/2006

Não se discute que as eleições de 2006 correm grande risco de serem tensas, com alto grau de virulência nos embates entre, de um lado, petistas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, de outro, tucanos e pefelistas. No centro das escaramuças estará o valerioduto, caso já histórico em que petistas trincaram de vez a imagem de donos do monopólio da ética.

A CPI dos Correios tem mapeado a rota de abastecimento do propinoduto com dinheiro público, e o assunto será explorado sem parcimônia pela oposição. Até porque teve repercussões nas proximidades do presidente.

E, agora, para injetar ainda mais adrenalina no cenário eleitoral, o próprio Lula decidiu subir no palanque da reeleição. É apenas uma esperteza dizer que só decidirá o futuro eleitoral em junho, no limite estabelecido pela legislação. Pois enquanto afirma ainda não saber se será candidato, outra coisa não faz Lula a não ser campanha. E, mais grave, usando a máquina e o dinheiro públicos. Vale lembrar que Lula é reincidente em testar os limites das normas eleitorais. Em 2004, o TRE paulista o multou por atuar de forma indevida na campanha de reeleição da prefeita Marta Suplicy.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral a partir de junho, ministro Marco Aurélio Mello, do STF, criticou a postura presidencial no momento adequado. Depois de um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, em que, a pretexto de ressaltar o fim das pendências financeiras com o Fundo Monetário, fez um discurso eleitoreiro, Lula, antes de embarcar para a Bolívia, esteve num palanque no Acre para ouvir o governador Jorge Vianna, petista, lançá-lo à reeleição.

— O exemplo vem de cima. Cabe a ele (Lula) adotar a postura que se almeja do primeiro dignitário do Brasil — alertou o ministro. É especialmente oportuna a referência ao exemplo, diante de informações de que o governador paulista Geraldo Alckmin, postulante tucano a enfrentar Lula, tem distribuído material escolar no seu estado com raro alarde.

Caso o mau exemplo do presidente se alastre, teremos uma das eleições menos éticas dos últimos tempos. Justo quando é preciso aproveitar a campanha para se debater temas essenciais ao futuro do país, como os gastos públicos sem controle, as reformas que ainda têm de ser feitas etc.

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