Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 07, 2006

Editorial da Folha de S Paulo

PRIMEIROS PASSOS
O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, parece estar adotando a moderação como tom em suas intervenções. Menos mal.
Em sua passagem pela Europa, o líder cocaleiro deu várias declarações conciliatórias. Disse, por exemplo, querer ver as várias companhias estrangeiras que atuam na Bolívia na prospecção de gás como "sócias". Trata-se de um avanço quando se considera que Morales foi eleito prometendo nacionalizar o setor.
O dirigente socialista que, na campanha, gostava de intitular-se "o pior pesadelo" de George. W. Bush, reservou palavras amenas até para Washington. Disse que espera poder colaborar com as autoridades americanas no combate ao narcotráfico. Mas reiterou que o cultivo das folhas de coca, tradicionalmente usadas pela população boliviana, não deveria ser vetado pela ONU.
É claro que Morales não chegou a rever nenhuma de suas posições. Valendo-se de um pouco de bom senso, adapta seu discurso à audiência. Basta lembrar que, antes de embarcar para a Europa, quando esteve na Venezuela, onde se reuniu com Hugo Chávez, o dirigente boliviano recaiu nas velhas palavras de ordem contra o "imperialismo ianque".
Ainda assim, o esforço de Morales para não parecer um radical diante de determinadas audiências já sugere que ele não deverá, pelo menos inicialmente, abraçar o caminho do confronto. É uma disposição saudável, mas que não diminui a enormidade do desafio que tem pela frente.
Morales caminha sobre o fio da navalha. Precisa compatibilizar o que é praticamente inconciliável. De um lado, ele tem de dar respostas concretas à maioria dos bolivianos que o elegeu esperando grandes mudanças sociais. De outro, precisa tomar cuidado para que o discurso inflamado e ações inábeis não comprometam ainda mais a frágil economia do país.
O substrato potencialmente anômico da política boliviana, que derrubou dois presidentes do país entre 2003 e 2005, não desapareceu.

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