Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 18, 2006

CELSO MING Câmbio responsável

OESP

 

Acuado pela desenvoltura com que o governador Geraldo Alckmin se apresentou para o jogo eleitoral, o prefeito paulistano, José Serra, entendeu que precisa sair da moita e explicar o que pensa sobre política econômica.

Segunda-feira, na abertura da 33ª Couromoda, em São Paulo, Serra criticou a política cambial do governo Lula, propôs o que chamou de "responsabilidade cambial" e ainda defendeu a criação de um "seguro de câmbio", para que os exportadores não corram riscos demais.

Serra parece agora empenhado em garantir mais apoio de empresários e homens de negócio, entre os quais ainda não conseguiu atrair simpatia. Eles o criticam, talvez injustificadamente, por excesso de personalismo na formulação de políticas e pelo seu estilo centralizador em administração pública. Quando ataca as relativamente baixas cotações do dólar, Serra está cantarolando a música que os exportadores adoram ouvir.

Ao pedir "responsabilidade cambial", entenda-se que o prefeito acusa o governo Lula de práticas de "irresponsabilidade cambial", independentemente do que o Banco Central e o Tesouro estejam fazendo para impedir o prosseguimento do escorregão do dólar.

Mas Serra não explica o que pretenderia fazer para reverter a tendência à queda da cotação da moeda estrangeira. Como suas críticas se estendem aos juros altos, que ninguém quer e pouca gente defende, fica a impressão de que ele pensa como alguns economistas para os quais bastaria derrubar os juros para que o jogo do câmbio se revertesse.

Mas o que fazer se o câmbio está onde está principalmente em conseqüência da força das exportações? Por acaso, é para liberar as importações para que uma demanda maior de dólares pudesse reduzir substancialmente o atual superávit comercial, de US$ 45 bilhões em 2005 e, em seguida, reverter a valorização do real?

Como fala em criar um "seguro de câmbio", Serra talvez sugira que o regime de livre flutuação deva ser mantido: com o câmbio fixo, não haveria necessidade de seguro. Mas ele parece ignorar que as operações de hedge existem para isso. O que, então, seria esse seguro de câmbio e quem se encarregaria do pagamento dos prêmios? O especialista em câmbio e co-autor do projeto de reforma cambial proposto pela Fiesp, Alcindo Ferreira, desconhece mecanismo que opere como seguro de câmbio que não leve o nome de hedge. E o hedge está à disposição de qualquer um no mercado financeiro. Tem lá seu custo, mas funciona.

Paradoxalmente, os passos de dança do pré-candidato José Serra não põem em movimento apenas seu principal rival em São Paulo, o governador Alckmin, e outros pretendentes à faixa presidencial. Arrancam manifestações inesperadas de notórios artilheiros do fogo amigo.

Segunda-feira, os ataques de Serra à política cambial mobilizaram o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, um malhador de primeira hora do Banco Central, pela maneira como vinha administrando o câmbio. Desta vez, Furlan defendeu o Banco Central e colocou em dúvida a eficácia das receitas cambiais do prefeito paulistano: "Quem sabe faz, quem não sabe, ensina; e, quem não faz nem um nem outro, critica."

Seria bom que Serra explicasse como e com que paus pretende fazer essa canoa.


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