Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

VEJA Millor ENTRE-VISTAS



A maior joalheria de Lyon homenageia nosso patrocinador. Lyon, como todos sabem, quase desapareceu num incêndio no ano LXIII. Nero – aquele mesmo – ajudou a reconstruí-la.

Mesmo não dando entrevistas, fugindo delas o mais que posso, ainda assim, tudo somado, tempo passando, tempo passado, a gente acaba falando muito, respondendo a não sabe o quê, sem saber por quê. Vou reproduzir aqui, uma vez ou outra, entre-vistas (parte delas – que caibam neste espaço) a que cedi, que permiti. Com um acréscimo, que será um decréscimo – quando respondo vocês não terão as perguntas, e não terão as perguntas quando me respondem. Se é que me faço entender. A última coisa que eu gostaria que acontecesse. Vamo lá:

1 Não. Nada que faço tem significado especial, ou algum outro. As circunstâncias traçam os acontecimentos e eu as sigo. Claro, faço parte das circunstâncias que alguém vai seguir.

2 A corrupção não é novidade e existirá enquanto existir o ser humano; o homem é um animal inviável. Graças a Deus. Senão o mundo seria de uma monotonia insuportável.

3 Não senti nem sinto falta especial de nada. Sou um contemplativo em ação, se é que isso existe. E às vezes sou o contrário. Isso existe.

4 Não sinto grande diferença entre o trabalho atual e o de outros tempos. Como a liberdade é sempre relativa, furar o bloqueio das imposições ou pressões também é relativo. No tempo dos milicos havia a ameaça de prisão e tortura. Hoje procuram intimidar jornalistas com ameaças jurídicas fascistóides (vide o caso, já sepultado, RenóPetrobrás x Paulo FrancisImprensa, o de Lula, expulsando jornalista americano e dizendo "eu tenho que dar um exemplo", e Aldo Rebelo, o filólogo, me cobrando na Justiça R$ 30 200,00 porque eu demonstrei que ele não sabia o que era idioleto) que os impeçam de escrever claramente o que estão pensando. A não ser que tenham "provas definitivas". Ora, jornalista não é jurista nem tribunal. Se for pesquisar até o fim aquilo sobre que se propõe escrever, jamais escreverá coisa alguma. O jornalista deve ser julgado por sua "probidade", pela constante do seu comportamento profissional (Lula, ao fundo: "Serão todos condenados. São todos covardes".).

5 Sempre disse e aqui repito: "Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto".

6 Creio que artigos assinados – quer dizer, personalizados – quebram, de uma forma ou de outra, a monotonia dos textos pasteurizados do conjunto da publicação. O leitor gosta de reconhecer caras, de discutir personalidades. E que não gostasse!

7 O que espero dos leitores é que cumpram a sua função, como eu cumpro a minha. Eu, jornalista, escrevo. Leitores lêem.

8 Minha visão de Santa Catarina é antiga e idílica – montes, vergéis floridos, paz e amor, no meio de muita luta, até a proclamação de uma República (a Juliana) que durou só meses. Tá certo? Tem um Floriano lá atrás ("À bala!") e um Garibaldi sempre a todo o galope. Anita tenta acompanhá-lo com os cabelos brilhando ao vento. Se não é assim a culpa não é minha. Aprendi assim em criança. Não é agora que vou mudar essa visão romântica.

9 Não posso falar dos seres humanos que mais admirei na vida porque são nomes sem nome, caras que nunca freqüentaram a luz da ribalta. Gente que viveu a vida como deve ser vivida – de maneira puramente existencial. Quanto aos que merecem ser esquecidos, ah, desses, coerentemente, eu não me lembro.

10 Bem, não quer dizer que eu também não seja neurótico. Por exemplo, sou tarado por gozação, por negar – não negar por negar, mas apenas porque tudo o que se conta ou se fala, principalmente de história (mas poderia dizer de tudo), é invenção, má visão, má audição ou pura e simplesmente mentira. Mentira simplória, às vezes, que é a dos poetas e literatos em geral. E mentira, por exemplo, dos antropólogos e afins que, ao faltar abonamento, saem pelaí com uma tese embaixo do braço, até encaixá-la em algum vão geográfico do que pretendem provar. Vide Margaret Mead.

Arquivo do blog