Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

VEJA Tales Alvarenga A ursa e o equilibrista


"A substituição ou não de Palocci tornou-se
irrelevante a essa altura. O problema passa
a ser Lula. Cercado por sua gigantesca
Operação Tabajara"

O escritor Gore Vidal criou uma piada sobre Ronald Reagan que se adapta a Lula. Vidal disse que a biblioteca de Reagan pegou fogo e nada se salvou. Os dois livros ficaram carbonizados. O que mais entristeceu Reagan foi que ele ainda não tinha colorido as figuras. Ronald Reagan era tido como carismático mas mentalmente inepto (coisa que não era). Lula é tido como carismático e mentalmente inepto (coisa que é).

O governo Lula foi um grande blefe, menos num ponto. Antonio Palocci, o ministro da Fazenda, deu a Lula uma economia estável. Seus índices são melhores que os do governo FHC para inflação, contas externas, dívida pública e risco Brasil.

Esse era o trunfo de Lula para se reeleger em 2006. Com a descoberta da quadrilha petista pilhando o Erário, a carta da estabilidade econômica deixou de ser suficiente. Era preciso produzir outras mágicas. Foi então que a ministra Dilma Rousseff, tal como uma ursa de circo, entrou em cena plantando bananeira, girando bambolês na perna e andando de patinete para o presidente ver.

Chefe da Casa Civil, Dilma começou seu número dando uma patada no colega Antonio Palocci, abaixo da cintura. Declarou que a política de Palocci era uma tolice "rudimentar". Propôs, no lugar disso, redução de juros e aumento dos gastos públicos. Nesse momento, o vice-presidente José Alencar, ele também um urso, encontrou sua alma gêmea. E o presidente Lula descobriu seu canto de sereia eleitoral. Sim, sim, claro. Menos juros, mais gastança e crescimento ao ritmo de Juscelino! Todo político fica assanhado quando alguém, com o peso de Dilma, acena com a fórmula da gastança em ano eleitoral.

Nesse momento, foi selado o destino do equilibrista Palocci. Vai virar homem-bala e ser expelido do circo pelo canhão, através de um buraco na lona de cobertura. Em primeiro lugar, por sua "ribeirão-pretagem". Não vai dar para contornar essa questão diante da opinião pública. O grande enigma é saber que destino Lula dará ao único ponto forte do seu governo, a política de Palocci.

Ninguém pediria a Lula que saísse por aí defendendo a honestidade de Palocci pessoa física, depois das denúncias de que ele estava metido num mensalão como prefeito de Ribeirão Preto, para engordar o caixa dois do PT. O que se esperaria do presidente é que defendesse a política econômica seguida por seu ministro, mostrando que a avaliza cabalmente e sem hesitação.

Resta alertar para o fato de que uma queda significativa dos juros aliada a mais gastos do governo são coisas que colidem e se explodem mutuamente. Quanto mais gastar esse governo, que já é esbanjador e deficitário, mais altos terão de ser os juros para evitar a desconfiança do mercado e a explosão inflacionária. Seria reconfortante imaginar que Lula está vacilando entre caminhos econômicos diversos. Mas Dilma não teria sido tão agressiva em relação a Palocci sem o sinal verde do presidente. Se isso for verdade, a substituição ou não de Palocci torna-se irrelevante. O problema passa a ser Lula. Cercado por sua gigantesca Operação Tabajara.

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