Dias antes de chamar plano de ajuste fiscal de longo prazo de "rudimentar" em entrevista ao "Estado", ministra se queixou ao presidente
Roldão Arruda
Assessores de Lula que tomaram conhecimento do relatório dizem que foi preciso. Dilma, que é economista e já dirigiu a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, teria identificado quais ministérios estão com certa folga financeira e os que estão sendo estrangulados por não conseguir verbas orçamentárias.
Lula teria concluído que não se tratava de uma crítica à política econômica, mas sim à maneira como tem sido executada por Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Também ficou claro que Dilma agiu como porta-voz do grupo de descontentes, no qual estariam incluídos desde o pragmático ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Furlan, ao radical Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário. Nele também figurariam Roberto Rodrigues, da Agricultura, Alfredo Nascimento, dos Transportes, e Ciro Gomes, da Integração Nacional.
APERTO
O descontentamento dos ministros teria subido a níveis elevadíssimos no último dia de outubro, quando o Banco Central anunciou que o governo tinha conseguido superar em setembro a meta de superávit primário prevista para o ano inteiro. Isso foi possível graças sobretudo ao aperto no cinto do setor público - incluindo aí a não liberação de verbas previstas no orçamento para os ministérios. Foi exatamente uma semana após este anúncio que Dilma deu a polêmica entrevista ao Estado, na qual desancou Palocci e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Outros ministros já haviam reclamado diretamente com o presidente. Tempos atrás, Rossetto chegou a recorrer ao secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, pedindo-lhe que interferisse e demonstrasse a Lula que seria impossível cumprir as metas de assentamento da reforma agrária se Palocci não liberasse recursos. Olívio Dutra deixou o Ministério das Cidades, em julho, atirando contra o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, subordinado de Palocci. Acusava-o como principal responsável pelas dificuldades financeiras no programa de habitação popular.
Até agora, porém, nenhum ministro havia sido tão contundente na crítica quanto Dilma. Numa conversa que teve com ela e o ministro da Fazenda logo após a entrevista ao Estado, Lula não censurou a polêmica nem tomou partido. Apenas pediu que não tornassem públicas as suas divergências.
Lula não concorda com a tese de que por trás do debate exista um conflito entre desenvolvimentistas e monetaristas. Acha que a polêmica é um pouco mais rasa, uma vez que seus ministros não estão reclamando das diretrizes econômicas, nem do montante de verbas previstas no orçamento para suas pastas, mas sim da forma como o Ministério da Fazenda age.