Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 18, 2005

É isso? Augusto de Franco



 (18/11/05 06:52)

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Enquanto o presidente do PSDB (que assume hoje) declara que "faremos o maior empenho para que o presidente vá até seu último dia de mandato. Torcemos para que não haja interrupção, que o processo institucional normal prevaleça e que todo presidente eleito exerça seu mandato até o fim" e que isso só não ocorrerá "se aparecerem evidências legais intransponíveis" (dando a entender que todas as evidências que apareceram até agora foram "transponíveis"...) sai a notícia de que PT e PSDB conversam para tentar encerrar a CPI dos Correios em fevereiro.

Quando a jornalista, na entrevista concedida por Tasso Jereissati e publicada hoje pela Folha de S. Paulo, perguntou ao senador se já não havia as tais evidências, ele respondeu: "até há evidências que poderiam levar a um processo jurídico, mas não existe clima para o impeachment, que é um processo que mistura o jurídico com o político. Teria de haver um claro convencimento da maioria da população, e isso não existe".

A entrevista é muito ruim. Nela, o futuro presidente do PSDB chegou a declarar que "a oposição avaliou que deveria, antes de tudo, tratar o ministro Palocci com o respeito que ele merece. Fazemos oposição ao governo e ao ministro, mas, sem dúvida, ele tem um trabalho feito a este país. O ministro Palocci sofre uma série de acusações, vindas de ex-assessores, que não podemos deixar de investigar. Por outro lado, ele também está sendo muito acossado pelo próprio governo, e não tem sido amparado devidamente pelo presidente Lula. Isso pode prenunciar um período de gastança pré-eleitoral que é defendida por setores do PT".

Só faço uma pergunta: pra que a oposição tem que se meter nesse assunto? Qual a necessidade de ficar reafirmando "o respeito que Palocci merece", ficar elogiando o seu "trabalho feito a este país"?

A outra notícia, publicada também na Folha de São Paulo de hoje, é preocupante: "PT e PSDB tentam encerrar CPI em fevereiro" - diz a manchete. Por que o PSDB tem que participar de discussões sobre o encerramento da CPI dos Correios em fevereiro? A CPI não tem que encerrar suas atividades quando tiver feito o seu trabalho, dentro do prazo estabelecido?

Qual a necessidade da oposição continuar fazendo essas coisas? Talvez a única explicação seja mesmo a do presidente do PSDB: estão fazendo "o maior empenho para que o presidente vá até seu último dia de mandato". Pelo que posso entender, poupar Palocci e impedir que a CPI entre no ano eleitoral atrapalhando a campanha de Lula fazem parte desse empenho. É isso?


FOLHA DE S PAULO:
PT e PSDB tentam encerrar CPI em fevereiro FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Integrantes da base aliada e do PSDB na CPI dos Correios querem antecipar o fim das investigações em dois meses. A comissão terminaria em dezembro, mas um requerimento da oposição, capitaneado pelo PFL, prorrogou os trabalhos até abril, impondo uma derrota ao governo.
A conclusão dos trabalhos em fevereiro começou a ser discutida anteontem em uma reunião entre o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) e o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que é relator-adjunto.
Ao negociar um prazo intermediário para o término das investigações, Delcídio, que também é líder do PT no Senado, oferece uma solução para o Planalto, que não quer estender a crise para o próximo ano, quando há eleições.
Já o PSDB estaria seguindo orientação do prefeito de São Paulo, José Serra, o tucano com mais chances nas pesquisas. A avaliação dele, segundo parlamentares, é que prorrogar a CPI até abril, véspera das eleições, prejudica tanto o PT quanto o PSDB.
Os tucanos já saíram respingados da atual crise. Pressionado pelas denúncias, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) admitiu à CPI ter utilizado caixa dois em sua campanha de reeleição ao governo de Minas, em 1998. A fonte dos recursos teria sido o publicitário Marcos Valério de Souza -mesmo esquema utilizado pelo PT. Azeredo deixou a presidência do partido.
O PFL não concorda em apressar o final dos trabalhos. "Não tem acordo para isso, o PFL não aceita. Existe um prazo regimental que é abril. Se chegar março e o trabalho estiver feito é outra história. Não vamos decidir isso por antecipação", afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator.
O governo convenceu 66 deputados a retirar as assinaturas do requerimento de prorrogação da CPI. A manobra não teve sucesso porque o documento ficou com o apoio de 171 deputados -o mínimo necessário.
"Infelizmente a CPI dos Correios encaminhou esse assunto sem uma discussão prévia. Se tivesse que prorrogar um pouco mais poderia ter sido feito, mas sem ser de uma forma aleatória ou por razões político-eleitorais", afirmou anteontem o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
A prorrogação ainda está sendo contestada. O deputado Carlos Willian (PMDB-RJ) recorreu anteontem à Mesa da Câmara para a retirada de sua assinatura. O requerimento excluindo o seu apoio foi apresentado antes de a oposição protocolar o documento que incluía sua assinatura, logo não foi considerado. O mesmo aconteceu com o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA).
A argumentação, também utilizada pelos líderes governistas, não foi aceita pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Essa não é uma decisão política, não é uma filigrana qualquer. A Mesa tem que se guiar pela cronologia, quando eles entregaram o pedido de retirada de assinaturas elas não existiam ainda. Não há o quer resolver, já está resolvido", afirmou.
O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), deve encaminhar à Mesa do Congresso o recurso de Willian, cabendo à Renan a palavra final. Os dois almoçaram ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais). Delcídio foi chamado à presidência do Senado antes do encontro.
Integrantes da CPI dos Correios pediram ontem ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, a reconsideração das liminares que impediram a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Prece -fundo de pensão dos funcionários da Cedae (Companhia de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro) e da corretora Ipanema. Há mais seis pedidos de liminar de operadores do mercado financeiro e corretoras.
Eles também pediram ao procurador-geral Antônio Fernando Souza o bloqueio de bens da Skymaster, que faz transporte aéreo de cargas para os Correios. Os sócios da empresa estão sendo acusados por integrantes da CPI de evasão de divisas e superfaturamento no contrato com a estatal. A empresa nega.

Palocci é o fiador da estabilidade, diz Tasso
Virtual presidente do PSDB nega que oposição "blinde" ministro e diz que "tibieza" de Lula tira-lhe autoridade para ser lastro da política econômica

Lula Marques/Folha Imagem
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) concede entrevista à Folha, em seu gabinete, tendo ao fundo imagens com motivos religiosos


VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O senador Tasso Jereissati, 56, que assume hoje a presidência do PSDB, afirma que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é "o lastro" da política econômica, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem "crédito para ser fiador da estabilidade".
Ele critica Lula pela "tibieza" e "dubiedade" com que defende a política econômica. E mostra que a tolerância com Palocci não se estende a Lula. "O presidente não gosta de estudar, não gosta de ler, não gosta de trabalhar, não gosta de problemas e se orgulha disso."
O senador diz que o maior desafio do PSDB é ter um projeto alternativo para a economia -que, admite, ainda não existe. Jereissati assume hoje o comando da legenda, em Brasília. Leia os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha.

 

Folha - A oposição deixou de inquirir o ministro Antonio Palocci sobre as acusações que pesam contra ele. Foi estratégia ou a oposição manteve a blindagem ao ministro?
Tasso Jereissati -
Essa estratégia foi decidida porque a oposição avaliou que deveria, antes de tudo, tratar o ministro Palocci com o respeito que ele merece. Fazemos oposição ao governo e ao ministro, mas, sem dúvida, ele tem um trabalho feito a este país.
O ministro Palocci sofre uma série de acusações, vindas de ex-assessores, que não podemos deixar de investigar. Por outro lado, ele também está sendo muito acossado pelo próprio governo, e não tem sido amparado devidamente pelo presidente Lula. Isso pode prenunciar um período de gastança pré-eleitoral que é defendida por setores do PT.

Folha - Mas é tarefa da oposição defendê-lo do fogo amigo?
Tasso -
Nós não vamos blindar ninguém nem estamos dando sobrevida ao ministro. O país está longe de viver um momento brilhante na economia. Mas, pelo menos nessa área, vive-se um equilíbrio, e não o caos que se vê no resto do governo. E esse equilíbrio se deve ao ministro Palocci.

Folha - Palocci será convocado pela CPI dos Bingos?
Tasso -
O ministro vai ser convocado, e ele mesmo se propôs a vir.

Folha - Ele tem condições políticas de ficar no cargo?
Tasso -
Se ele não tiver condições de esclarecer as denúncias, certamente não. Mas, mais do que isso, ele está muito enfraquecido pela indecisão, tibieza, dubiedade do presidente no trato das questões internas do governo em relação à política econômica. Em nenhum momento Lula o defendeu.

Folha - O sr. trata Palocci como o lastro da economia.
Tasso -
Sem dúvida que ele é o lastro da política econômica. Até a tibieza e dubiedade do presidente na disputa interna tiram dele a autoridade para ser esse lastro. Lula, que já não tinha crédito, perdeu qualquer possibilidade de ser o fiador da estabilidade.

Folha - Na sua gestão o PSDB fará oposição aguerrida ou fará o discurso da responsabilidade?
Tasso -
Minha gestão se baseará em dois pontos. O primeiro é que o Brasil precisa de um choque de moralidade. O descrédito em que caíram a política e o processo eleitoral tem de ser enfrentado. O segundo ponto é que o Brasil está sem projeto. O PT e o governo destruíram toda e qualquer idéia de projeto e de valores. Começa pela atitude do Lula. Ele não gosta de estudar, não gosta de ler, não gosta de trabalhar, não gosta de problemas e se orgulha disso.

Folha - E qual será o projeto do PSDB? O que tem a apresentar que não seja mais do mesmo?
Tasso -
Fomos o partido que enfrentou os grandes desafios do país. Enfrentamos o maior deles, que foi a inflação. Mas esses projetos se esgotaram e os desafios são novos. Na economia é o crescimento, como enfrentar a questão do ajuste fiscal com crescimento e maior distribuição de renda.

Folha - Mas o partido ainda não tem essas propostas, é isso?
Tasso -
Não temos a fórmula, mas temos propostas. No passado fomos à universidade e apareceram André Lara Resende, Pérsio Arida, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Elena Landau, que fizeram o Plano Real. Queremos repetir isso com idéias novas.

Folha - O sr. assume o partido no momento da definição do candidato. A disputa será tensa como foi a de 2002, entre o sr. e José Serra?
Tasso -
Na oposição aprendemos muitas lições que serão suficientes para que não repitamos erros do passado. As circunstâncias são outras, o clima é bom.

Folha - Em 2002 o sr. acusou Serra de impor sua candidatura e depois apoiou abertamente Ciro Gomes.
Tasso -
São fatos vencidos. Eu tenho um excelente relacionamento com o Serra, com um breve episódio de afastamento.

Folha - Quais são os prós e os contras dos dois pré-candidatos, Serra e Geraldo Alckmin?
Tasso -
Só vejo prós, não contras. Os dois têm grandes qualidades, fazem grandes administrações.
Alckmin é considerado um dos melhores governadores do Brasil. Um governador que sai de São Paulo com a aprovação que ele tem está apto a assumir a Presidência a qualquer momento. Do outro lado tem o Serra, que fez uma gestão no Ministério da Saúde reconhecida internacionalmente e, agora, com pouco tempo à frente da prefeitura de São Paulo, já deu uma nova cara à cidade.

Folha - O sr. substitui na presidência do partido o senador Eduardo Azeredo, que recebeu recursos de Marcos Valério. Qual é a diferença disso para o esquema do PT?
Tasso -
O Eduardo Azeredo tem um problema de delito eleitoral, na campanha de 98. Recebeu financiamento que não foi registrado. Não há nenhuma evidência de corrupção nem de desvio de dinheiro público. O crime eleitoral é semelhante ao do Lula, mas no caso do PT começam a aparecer indícios de que houve uso de recursos públicos. Essa é a diferença.

Folha - O sr. acha que há elementos para pedir o impeachment?
Tasso -
Faremos o maior empenho para que o presidente vá até seu último dia de mandato. Torcemos para que não haja interrupção, que o processo institucional normal prevaleça e que todo presidente eleito exerça seu mandato até o fim. Mas se aparecerem evidências legais intransponíveis a lei tem de ser cumprida.

Folha - E não há evidências?
Tasso -
Até há evidências que poderiam levar a um processo jurídico, mas não existe clima para o impeachment, que é um processo que mistura o jurídico com o político. Teria de haver um claro convencimento da maioria da população, e isso não existe.

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