Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 16, 2005

O grande circo -Eliane Catanhede



Folha online 

É de arrepiar. Eis os personagens que estão nesta tarde de quarta-feira, pós-feriado, na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado):

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que fala sobre economia, quando o país inteiro quer saber das denúncias sobre desvio de verbas públicas na Prefeitura de Ribeirão Preto para campanhas do PT e também daqueles dólares de Cuba voando de lá para cá com ex-assessores da Prefeitura na gestão Palocci. Aliás, voando em aviões de amigos empresários do ex-prefeito, agora ministro.

O presidente da CAE, senador Luiz Otávio (PMDB-PA), envolvido em sérias denúncias sobre sonegação fiscal. Estava com o mandato por um fio, mas em vez de ir para casa virou presidente da comissão mais poderosa do Senado Federal.

O senador e ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR), acusado de apresentar sete fazendas fantasmas como aval para um empréstimo nunca pago. Jucá era ministro da Previdência no governo Lula e caiu, voltou para o Senado e está tentando dar uma tábua de salvação para Palocci no depoimento de hoje.

Somando esses personagens, entre tantos outros, o que se tem é um grande circo. Palocci antecipou sua ida ao Senado, para depor na CAE, por dois motivos: queria um palco ameno, melhor do que as CPIs, para produzir justificativas e respostas para as denúncias. Evidentemente, de olho no espaço que certamente terá nos telejornais da noite.

Percebendo isso, o pefelista José Jorge (PE) tentou articular um boicote ao depoimento, com a oposição simplesmente se ausentando ou se recusando a fazer perguntas. O correligionário ACM ponderou que isso seria contribuir para o circo de Palocci e lembrou que, se fosse o contrário --um ministro do PFL, com o PT na oposição--, o ministro pefelista seria trucidado peos petistas.

No final, PSDB e PFL acertaram fazer algo de meio termo: evitar fazer perguntas sobre denúncias, ao mesmo tempo em que vai tentar forçar a ida de Palocci para depor nas CPIs, sim. Lá, nesse foro apropriado, é que as perguntas serão pau puro.

A questão é que, com a oposição perguntando ou não, Palocci foi com o discurso pronto: metade enaltecendo a própria política econômica e fazendo diplomáticos elogios aos governos anteriores (dos hoje oposicionistas) e a outra metade produzindo frases de defesa, e de efeito, para os telejornais.

Em vez de falar de Buratti, Poletto e todos aqueles ex-assessores esquisitíssimos da época de prefeito de Ribeirão, o ministro passou a elogiar os atuais assessores, suprapartidários, do Ministério da Fazenda.

Espertinho, o ministro. Agora, falta ver se cola. Ou, como diria Dilma Rousseff, falta combinar com os adversários: a população brasileira, ávida por explicações que não vêm. Falar é fácil, mostrar argumentos convincentes é que são elas

Arquivo do blog