Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 22, 2005

MIRIAM LEITÃO Tamanho da queda

Tamanho da queda

Esta reunião do Copom tem várias incertezas. A inflação subiu, a expectativa de inflação subiu também. Isso poderia levar o Banco Central a não acelerar a queda da taxa de juros. Por outro lado, o dólar caiu muito, indicando que se agrava a distorção que leva a moeda brasileira a ser a que mais sobe em relação ao dólar no mundo. Só isso já deveria levar o Copom a derrubar fortemente os juros.

Que o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo, todos sabem, mas ainda espanta a diferença em relação aos outros países, porque ela é gigantesca.

Veja o gráfico abaixo, que compara inflação, juros e juros reais entre os países que têm as maiores taxas do mundo.

A Turquia, que já teve juros nominais próximos aos do Brasil, iniciou este ano a redução da taxa e, apesar de ter uma inflação maior do que a brasileira, tem uma taxa de juros nominal três pontos percentuais mais baixa.

A Rússia, que está com inflação de dois dígitos, tem uma taxa de juros muito menor do que a do Brasil.

Os países não são exatamente comparáveis. A Rússia, por exemplo, tem uma dívida pequena, reduzida após a moratória e o uso dos recursos excedentes do petróleo. A Venezuela não é exemplo para ninguém. Mas a Turquia viveu uma crise até mais recentemente que o Brasil e dá bem uma demonstração dos excessos brasileiros em matéria de taxa de juros.

Não se está defendendo aqui que o país possa ter mais inflação. Evidentemente não pode. Por isso o início da elevação dos juros fez sentido, mas o Banco Central desprezou os sinais de que a inflação já estava cedendo e continuou elevando as taxas. Isso produziu várias distorções na economia brasileira. Uma delas, a excessiva valorização da moeda frente às principais moedas do mundo, como mostrei aqui na semana passada: 40% de valorização frente ao euro e ao iene não é definitivamente um desempenho razoável.

Durante quatro meses, o país teve deflação pelos IGPs e, no ano, o índice do atacado está negativo. O IPCA subiu no mês passado, mas foi um episódio e não uma tendência.

Essa é a visão do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC. Para ele, o aumento da inflação em outubro foi apenas um repique depois de meses de IPCA abaixo do esperado. Nada que deva causar preocupação real:

— Este aumento nos preços compensou meses de deflação atípica nos IGPs. Estamos com uma previsão de novembro ainda alta, em 0,40%, 0,45%, um pouco acima do mercado mas, em dezembro, deve voltar a cair. O importante agora não é em quanto vai fechar a inflação este ano, mas as perspectivas para o ano que vem — afirma.

Com a economia menos aquecida para o Natal, nem em dezembro, mês em que costuma aumentar a inflação, deverá haver um aumento significativo de preços.

Por tudo isso, o Copom pode muito bem aumentar a queda da taxa de juros, saindo de meio ponto percentual para um ponto percentual, ou, na pior das hipóteses, 0,75 ponto percentual de queda. E, mesmo assim, continuará uma alta taxa de juros.

O Banco Safra, por exemplo, um dos mais ousados na expectativa em relação ao Copom, prevê um ponto percentual de queda ao fim da reunião amanhã.

— A meta de 2005 já foi cumprida e 2006 está convergindo para a meta. É normal que os dados mensais tenham volatilidade, então uma inflação maior em outubro e novembro não deve ter impacto na decisão do Copom. A economia está mais devagar do que se imaginava e o diferencial de juros está empurrando o dólar muito para baixo. O Copom pode ser mais agressivo na queda — comenta Eduardo Faria, economista-chefe do Safra.

O ministro Antonio Palocci enfrentará hoje a superterça. Vai a duas comissões na Câmara dos Deputados, que promete ser mais dura do que o Senado foi na semana passada. E provavelmente terminará o dia convocado para ir depor na CPI dos Bingos. Isso evidentemente não tem que ser levado em consideração pelo Copom, ou seja, não se pode relaxar a política monetária para ajudar o ministro nas suas desditas. Mas ajuda a compor o quadro deste início de semana: um momento de muita expectativa.

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