O GLOBO
A revelação do blog de José Meirelles Passos no Globo Online, de que o governo dos Estados Unidos estaria dando ao Brasil o status de "parceiro regional" depois da viagem do presidente Bush ao continente é uma mudança fundamental na estratégia da política externa americana. O professor de história contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira lembra que o documento básico do governo Bush de diretrizes de segurança nacional, publicado em agosto de 2002, deixa muito claro que os EUA não fariam políticas regionais específicas e que não se relacionariam com os países do mundo pela mediação de potências regionais, isto é, "não reconheceriam potências regionais emergentes para um relacionamento especial".
Essa mudança estava sendo armada desde o ano passado, na visita de Condoleezza Rice. A explicação, para Teixeira, está, em primeiro lugar, no percurso do próprio Bush, "que saiu de uma posição de vencedor da Guerra Fria, arrogante, de bastante unilateralismo, para uma posição bastante enfraquecida, por causa do Iraque, um fiasco de grandes proporções, e também por que os líderes que ele tinha escolhido para exemplo na América Latina, todos fracassaram".
O professor Teixeira enumera: Bush foi claramente pró-Menem, achava Vicente Fox do México um grande sucesso, e tinha grandes expectativas com Álvaro Uribe na Colômbia, mas o Plano Colômbia foi por água abaixo. "Bush perdeu a interlocução, o Brasil é uma escolha de necessidade", diz Teixeira, para quem os integrantes da equipe de Bush, quase todos saídos de uma formação durante a Guerra Fria, e que tinham servido aos governo Reagan e Bush pai, "eram absolutamente anti-brasileiros, já no tempo de Fernando Henrique Cardoso".
Teixeira ressalta que a formulação política maior que está sendo posta em prática na política externa brasileira no governo Lula já estava esboçada no segundo governo Fernando Henrique. "Na viagem que ele fez à França, na Assembléia Nacional francesa, e depois na ONU, ele pautou a política externa brasileira de uma forma muito clara, dizendo que era a favor de uma abertura para o Oriente Médio, do reconhecimento do Estado palestino, era contra uma agenda unilateralista, reforçava a ONU e foi ele quem pôs a demanda oficial por um lugar no Conselho de Segurança".
Com Lula, essa política ficou mais evidente e chegou-se a falar na imprensa americana de um "eixinho do mal" formado por Havana, Caracas e Brasília. Nada disso aconteceu, lembra Teixeira: "Lula manteve uma política macroeconômica bastante responsável, ao contrário da Argentina; manteve uma política externa autônoma, mas bastante pragmática. Bush está sendo acusado no Congresso de ter destruído a política latino-americana de Bill Clinton por que a Alca não vingou, não conseguiu uma área de cooperação e, por outro lado, a China se tornou um dos grandes parceiros dos países latino-americanos".
Hoje, México, Brasil, e Venezuela têm parcerias de grande relevância com a China, com perspectivas de ampliação. A China acabou de assinar um pacto militar com Cuba, de vender armamento para a Venezuela e está interessada em investimentos diretos na área de petróleo off-shore da Venezuela. Tem uma missão boliviana negociando gás com a China. Teixeira diz que esses são "sinais evidentes de que aquele velho esquema vigente na Guerra Fria de que o hemisfério era um quintal americano, pelo menos para interesses comerciais, ruiu, por que a China não respeita essa geopolítica já superada".
Por isso, também Bush propôs a Lula uma parceria para se contrapor a China e a Índia, parceiros do Brasil em diversos acordos e ações, a mais destacada delas o G-20, formado na Organização Mundial do Comércio. "Isso muda aquele quadro que a gente viu em Cancún, onde os EUA preferiram uma aliança com o Japão e a União Européia contra os países emergentes, e com isso forçaram a criação do G-20, que surgiu exatamente contra uma atitude arrogante. E paralisou toda a rodada de Doha", comenta Teixeira.
"Está ficando claro que num mundo globalizado desse jeito, com novas potências em ascensão, os países latino-americanos poderiam procurar uma diversificação de pauta e apoios, inclusive compra de equipamentos que os Estados Unidos não venderiam, em países como a China, ou mesmo a federação Russa, a Índia", analisa Teixeira. A questão da energia também é fundamental para os Estados Unidos, que compram 15% de seu petróleo da Venezuela.
Segundo o professor da UFRJ, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos "foi precedida de uma tentativa de securitização do fornecimento de petróleo da Venezuela". O golpe na Venezuela de 2002, acontecido exatamente um ano antes da invasão do Iraque, teria essa intenção, mas deu errado e Chávez consolidou sua liderança na Venezuela.
Teixeira lembra que é muito possível que na rodada de eleições que começa agora na Bolívia e prossegue por 2006, governos de esquerda assumam o poder na Bolívia, no Equador. "O quadro só vai piorar", ressalta Teixeira, lembrando que "esses governos são profundamente antiamericanos".
A China apresenta uma corrida fantástica ao posto de potência global, e, segundo o professor Teixeira,"em termos estratégicos, a China hoje desequilibra a situação na Ásia Oriental e no Pacífico, desde manobras conjuntas com a Federação Russa, até a superação de poder de guerra anti-submarina no Pacífico a China já pôs em prática".
O fato é que os Estados Unidos estão compreendendo que, por mais poderosos que sejam, não conseguem manipular a política mundial sozinhos.
Entrevista:O Estado inteligente
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