O GLOBO
O ministro Palocci vai hoje à sabatina no Senado com o espírito aberto. Não será surpresa se ele preparar no plenário do Senado sua saída do ministério. Mas, se assim decidir, o fará para defender a política econômica contra ataques de setores do governo, e não devido às acusações de corrupção, que ele atribui a perseguições políticas regionais. Ao decidir antecipar para hoje à tarde sua ida ao Senado, o ministro Antonio Palocci jogou com o risco calculado: quis antecipar também o fim de uma temporada de especulações que, se estendida por mais uma semana, poderia causar-lhe tanto desgaste que o depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos marcado para dia 22 poderia já não ter mais significado político maior do que simplesmente o de selar o fim de seu período à frente da economia do país.
Tomar a iniciativa, mostrar-se em condições de responder aos ataques que considera motivados por perseguição política regional, e contar com o apoio político explícito do PT e de setores da oposição à política econômica, são os objetivos de Palocci hoje à tarde, para impedir que seja atropelado pelas denúncias que podem acabar inviabilizando sua permanência no Ministério da Fazenda.
Sair em virtude de uma disputa sobre os rumos da política econômica é uma coisa, outra bem diferente é ter que sair devido a acusações de corrupção em sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto e à frente da campanha presidencial de 2002. O ministro Palocci está convencido de que o Ministério Público paulista é movido por motivações políticas nas suas investigações sobre o período em que ele foi prefeito em Ribeirão Preto.
Assessores próximos chegam a identificar no secretário estadual de Segurança Pública, Saulo Queiroz, o principal responsável pela perseguição política a Palocci, levando a Polícia Civil de São Paulo a trabalhar em conjunto com o Ministério Público. Palocci já havia feito uma reclamação pública da Polícia Civil de São Paulo em episódio anterior, quando teria partido do secretário a liberação de uma fita com o depoimento de Rogério Buratti quando este foi preso pelo Ministério Público.
Os dois órgãos já anunciaram que têm provas sobre um suposto superfaturamento dos serviços públicos na prefeitura, especialmente dos trabalhos de lixo, para desviar dinheiro para os cofres do PT por intermédio da empresa Leão & Leão. O ministro considera essas denúncias irresponsáveis e lembra que até o momento apenas notícias de jornal mostram as supostas falcatruas. As eventuais provas e os documentos levantados pelo Ministério Público e pela Polícia Civil ainda precisam ser examinados e serão devidamente contestados, no que se desenha uma longa batalha judicial que ele tem certeza que ganhará ao final.
O que preocupa Palocci, ao contrário, é a disputa política que se desenrola, e por isso ele está empenhado em levar ao plenário do Senado esclarecimentos tão convincentes que releguem ao plano meramente político as acusações que continuarão a surgir. A superação da crise política dependerá em grande parte da atuação da oposição, que se encontra dividida entre os que querem não criar obstáculos para a permanência de Palocci à frente da economia, e os que pretendem recuperar terreno político atacando-o de frente na sabatina de hoje à tarde.
A oposição tem senadores que podem dar o tom agressivo às perguntas, a começar pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio, que se declarou desencantado com o ministro Palocci na reunião da CPI dos Bingos da semana passada, que ouviu o desastroso depoimento do economista Vladimir Poleto, um ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto envolvido nas denúncias de transporte de dólares de Cuba para a campanha presidencial de 2002.
Assim como fez com a entrevista coletiva que convocou num fim de semana, para responder às primeiras acusações que um outro ex-assessor seu, Rogério Buratti, fizera à mesma CPI dos Bingos, Palocci pretendia tomar a iniciativa de convocar uma coletiva para voltar a tratar de temas delicados como superfaturamento, caixa dois para o PT, financiamento de bingos para a campanha de Lula à Presidência e dólares de Cuba. Todos temas, por sinal, levados à cena política por integrantes de sua antiga equipe na Prefeitura de Ribeirão Preto.
Mas foi atropelado pela entrevista da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, atacando de frente o projeto da equipe econômica de fazer um plano de equilíbrio fiscal com um horizonte de dez anos, com metas de superávit primário estabelecidas antecipadamente e corte de custos na máquina governamental. O que mais abalou Palocci foi a certeza de que aquele ataque frontal aconteceu premeditadamente, para atingi-lo num momento em que estava enfraquecido politicamente.
Ainda não está afastada a possibilidade de que Palocci saia do ministério após a sabatina no plenário do Senado, mas ele espera sair por uma decisão própria, e não por ter sido desmoralizado pelo questionamento dos senadores, como aconteceu no governo Fernando Henrique com o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, que não teve outra saída senão a demissão depois de ter sido humilhado por um senador Pedro Simon especialmente inspirado na ocasião.
O fato é que o ministro ainda não se convenceu de que o presidente Lula fez tudo o que pode para mantê-lo no cargo depois do questionamento aberto da ministra Dilma Rousseff. A nota oficial do Palácio do Planalto foi decepcionante para ele, que viu no seu texto uma tentativa de não encarar de frente a disputa aberta pela ministra Dilma Rousseff. Não será surpresa se o ministro rebater publicamente hoje à tarde tanto as idéias econômicas da chefe da Casa Civil quanto a maneira como ela as expôs publicamente.
Fazendo isso, Palocci estaria forçando uma tomada de posição explícita do presidente Lula a seu favor, ou então criando condições para sair do governo pelas divergências econômicas, nunca pelas acusações de corrupção.
Entrevista:O Estado inteligente
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