A questão não é se Lula quer, mas se Palocci pode continuar no ministério O presidente Luiz Inácio da Silva pode dar uma, duas, mil entrevistas, fazer outros tantos discursos em defesa do ministro da Fazenda que isso não alterará uma vírgula o destino de Antonio Palocci, hoje muito mais dependente das ações da polícia e do Ministério Público paulistas do que dos desejos do presidente.
Na segunda-feira, policiais e procuradores anunciaram que, não fosse o foro privilegiado do ministro no Supremo Tribunal Federal, eles já poderiam pedir à Justiça o indiciamento de Palocci por peculato e formação de quadrilha.
Segundo eles, há provas de ocorrência de superfaturamento em contratos de prestação de serviços de lixo na prefeitura de Ribeirão Preto durante a gestão de Antônio Palocci como prefeito, entre 2001 e 2002. De acordo com palavras já ditas por seu ex-assessor Rogério Buratti, em público nas CPIs, e em caráter privado na polícia e no Ministério Público, a parcela "super" do faturamento servia para abastecer o caixa do PT.
Diante de fatos dessa ordem, valem muito pouco as vontades. Mesmo as habilidades política, verbal, mental e pessoal do ministro da Fazenda, expostas na primeira entrevista na qual abordou o assunto das denúncias meses atrás, já não são mais suficientes.
O ministro - nada afeito às fantasias megalômanas do chefe - obviamente foi o primeiro a perceber a gravidade e a natureza do drama. Deixa que o governo faça papel de néscio inventando uma discussão sem nexo sobre a política econômica e ele mesmo fica mudo feito peixe.
Se Palocci tivesse argumentos que lhe permitissem repetir o desempenho da entrevista anterior, evidentemente teria se posto à frente do problema de imediato, como da outra vez quando não esperou o amanhecer da segunda-feira para analisar o quadro. As denúncias circularam de sexta-feira para sábado e no domingo ao meio-dia Palocci já estava se explicando muito bem diante de câmeras e microfones.
Agora deu-se o inverso. Buratti confirmou que o ministro e então prefeito sabia de doações ilegais de bingos para a campanha de Lula e Vladimir Poleto vestiu figurino de réu na CPI dos Bingos faz uma semana e tudo o que Palocci fez foi sumir.
Reapareceria ontem para se reunir com o presidente da República e decidir o que fazer: tomar a iniciativa de sair enquanto é tempo de separar a figura de um ministro da Fazenda à beira do indiciamento judicial da condução da economia, ou deixar para sair depois, aos farrapos como José Dirceu, que optou pela desmoralização no cargo.
Bestalhão
Não fosse uma grosseria inominável, seria o caso de sugerir a troca do apelido na CPI da Compra de Votos do vulgaríssimo "Mensalão" para outro termo que também pode rimar com "espertalhão".
Sim, porque a gente fica a pensar no que seria mais plausível para explicar a quase perda de prazo de prorrogação: um ataque generalizado de parvoíce ou um acesso de esperteza coletiva mediante o qual governo e oposição se fizeram de bobos para levar a CPI à morte natural sem precisar dar grandes satisfações aos parentes - o público pagante.
Considerando que há interesses de um grupo e de outro em jogo naquela comissão, e considerando ainda que quando suas reverendíssimas tratam de seus respectivos interesses não costumam cochilar, a hipótese do "deixa estar para ver como é que fica" parece mais verossímil.
Acreditar que deputados e senadores com tantos anos de serviços prestados à vida como ela é, pudessem ser pegos de surpresa pelo aviso do fim da CPI equivale a lhes fornecer um passaporte de entrada no reino dos querubins.
Data querida
No PT tudo é feito com vagar; não necessariamente para fazer bem feito, mas a protelação é marca da casa.
O ato de apoio a José Dirceu, por exemplo, marcado para sexta-feira, realiza-se depois de cinco meses de sua saída da Casa Civil.
Praticamente no dia exato.
Em 16 de junho passado começou seu calvário rumo à cassação e à direção oposta pretendida por Dirceu, que, em seu discurso de despedida anunciava volta à Câmara "de cabeça erguida, com o coração sem amargura" para "consolidar a maioria e aprovar as mudanças em curso".
Pedagogia
Se o PSDB seguir a intenção de alguns líderes e expulsar mesmo o deputado Átila Lira como punição pela retirada de assinatura do requerimento de prorrogação da CPI dos Correios, não será um castigo qualquer.
Extinto o prazo para filiação partidária aos candidatos de 2006, a expulsão equivalerá à interdição eleitoral até 2008. Isso se o deputado quiser concorrer a prefeito ou vereador. Para voltar à Câmara teria de esperar até 2010.
Dadas essas circunstâncias especiais, quem sabe se uma meia dúzia de expulsões agora por desvios variados de conduta parlamentar não seria didático para o conjunto das excelências?
Malfeitorias e malfeitores estão aí, dando espetáculos diários.