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"Na entrevista concedida a emissoras de rádio o presidente Lula declarou que vai ser candidato, depois declarou que ainda não sabe se vai ser candidato.
O presidente tem todo o direito de buscar nas urnas um segundo mandato. A lei lhe dá este direito. E mais: ele pode decidir até a última hora. Não precisa mesmo se apressar.
Acontece que o presidente já percebeu que a oposição precisa ter certeza de que ele será candidato para organizar-se, ela própria, em torno de uma ou mais candidaturas.
Por isso mesmo, Lula sente um estranho prazer em brincar com os nervos da oposição. Uma hora diz que será candidato, para, no minuto seguinte, dizer que ainda está pensando.
Não há a menor razão para que o presidente Lula desista de disputar a reeleição. Em qualquer lugar do mundo, mandatos presidenciais com direito a reeleição transformam-se na prática em dois mandatos, com um plebiscito no meio.
O eleitorado decide: se gostou do primeiro mandato, reelege o presidente. Se não gostou, elege outro candidato. É simples assim.
Lula não se cansa de elogiar as ações e os feitos de seu governo. Todo santo dia o presidente faz um discurso em algum lugar do país, enaltecendo suas realizações. Um dos ministros mais importantes afirma que o presidente sofre da "síndrome do marco zero": tudo foi inventado e iniciado no seu governo.
Se é assim, não há razão para que ele não tente ser reeleito. Por isso, apesar de dizer que ainda não se decidiu, todos os atos do presidente apontam na direção contrária. Lula já se decidiu e é candidatíssimo.
A oposição, por sua vez, foi acusada de reagir às declarações do presidente dando início à campanha eleitoral de 2006. Bobagem pura. Uma sucessão presidencial começa assim que são proclamados os resultados da anterior. A campanha de 2006 já está em andamento desde que as urnas de 2002 proclamaram a vitória de Lula.
Acontece que o PSDB realizava sua convenção nacional para eleger o novo presidente. Nessas ocasiões, os discursos são normalmente inflamados, para estimular a militância. Até o governo sabe disso.
É natural, também, que o discurso mais radical tenha sido do ex-presidente Fernando Henrique. Afinal, todas as críticas do PT e de membros do governo a situações passadas são sempre dirigidas a Fernando Henrique e seu governo.
Além do mais, Fernando Henrique não tem mandato, não é prefeito nem governador, não precisa do governo federal para nada. E como não vai ser candidato a nada, pode muito bem ser o líder da oposição. Função que o ex-presidente está desempenhando com enorme prazer.
Portanto, a campanha de 2006 já começou, sim, e a temperatura já está elevada.
E o calor vai aumentar."
