Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 20, 2005

De um gato pingado Augusto de Franco

De um gato pingado

Augusto de Franco (20/11/05 06:25)

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Como um dos gatos pingados que encerrou o assunto, não vou, portanto, escrever mais sobre o tema. Mas reproduzo abaixo o último capítulo do artigo de Reinaldo Azevedo, publicado hoje no site Primeira Leitura e intitulado "Fala que eu te escuto".


Foi a oposição que criou dificuldades para Lula?

Reinaldo Azevedo, Primeira Leitura (20/11/05)

Infelizmente, não. Digo "infelizmente" porque acredito que oposições existe para se opor, por tautológico que pareça. Ao contrário: a maioria dos líderes oposicionistas reagia com desconfiança, menoscabo ou olímpica indiferença quando se apontavam os traços totalitários do PT. A suposição era a seguinte: eles são pouco sofisticados até para ser stalinistas. Estavam todos errados.

Essa oposição só aparece — e, aqui, Serra é mesmo exceção, com críticas, desde sempre, à política econômica e ao "bolchevismo sem utopia" — quando Waldomiro Diniz entra em cena. Ali, constatou-se que o PT poderia ter ido muito além do que permitira certa franja ética. O então ministro nunca mais foi o mesmo, mas a onda refluiu. Lula retomou a iniciativa. O episódio só serviu para fortalecer Palocci ainda mais.

Aí veio à luz a entrevista que Renata Lo Prete fez com o ex-deputado Roberto Jefferson. A esta altura, é legítimo constatar que ele atirou um pouco a esmo e acertou em algo muito maior do que viu ou sabia existir. Suas denúncias arrancaram o primeiro véu do petismo e tiraram a mídia da catatonia, levando-a para o tal "jornalismo investigativo". Por mais que tenha esbarrado em irregularidades e descoberto coisas, nada tem sido tão devastador para Lula como a confissão de seus aliados. Se vocês observarem bem, todas as grandes dificuldades do PT derivam do rompimento da lei do silêncio.

Só então as oposições se deram conta de que havia um sistema em curso, um método, um arranjo, para nocautear a democracia representativa e a alternância de poder. Poucos, bem poucos, para certa incredulidade geral, insistiam na tese: Olavo de Carvalho, Diogo Mainardi, Denis Lerrer Rosenfield, eu e a equipe de Primeira Leitura, para citar os mais notórios.

Como nos acusavam de "tucanos", a nossa crítica seria comprometida (a ironia é que os tucanos eram os primeiros a desconfiar da análise); Olavo e Denis seriam dois "direitistas" — logo, não poderiam estar falando a verdade. E Diogo escreveria só para "fazer barulho". Sobre o colunista da Veja, houve quem dissesse, em tom de acusação: "nem jornalista ele é". Como se fosse grande coisa "ser jornalista". Se eu pudesse, esconderia essa contingência. Quando releio alguns textos que tenho aqui guardados, redigidos por respeitáveis analistas-jornalistas, tratando Lula como o grande demiurgo, é claro que sinto vergonha de pertencer à mesma categoria dessa gente. De hábito, já prefiro quem erra sozinho a quem acerta em bando. Imaginem o que penso quando a manada toda opta pela estupidez. Em tempo: alguns deles atacavam Lula, é verdade; queriam que ele fosse mais, como direi?, "esquerdista", mais "esperança vencendo o medo". Lixo.

A oposição não derrubou ninguém. Foi compelida — em muitos casos, contra a vontade de seus atores — a assumir o papel que lhe estava reservado pela institucionalidade. Durante algum tempo, alguns gatos pingados ficaram segurando a lanterna de Diógenes. Não quero reconhecimento ou galardão. Creio que nem os outros. Somos todos donos de nosso respectivo nariz para nem mesmo montar um clube. No fundo, só queremos menos governo enchendo o nosso saco e enfiando a mão no nosso bolso.

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