Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 18, 2005

ELIANE CANTANHÊDE De camarote

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BRASÍLIA - A oposição fez ou não um acordão para salvar a pele de Palocci no depoimento de anteontem? Se não foi acordão, e sim estratégia, ela acertou ou errou?
Essas dúvidas já rondavam o Congresso antes mesmo do início da fala de Palocci, quando PFL e PSDB anunciaram que só fariam perguntas de economia, passando ao largo de Ribeirão Preto. As respostas estão cada vez mais claras. Não foi um acordão. Foi uma guerra de espertezas.
Espertamente, o governo montou o teatro e distribuiu os papéis: antecipou a ida do ministro ao Congresso, numa inocente comissão de economia, para dar suas versões sem o vexame de sentar numa CPI. A oposição seria o algoz, e Palocci, a vítima de um mero jogo político.
Pegos de surpresa, PFL e PSDB adotaram uma estratégia arriscada, mas igualmente esperta: recusar o script traçado pelo adversário. Inverteram-se os papéis, com Mercadante se esgoelando para que o ministro fosse inquirido sobre escândalos, e os tucanos e pefelistas perguntando sobre juros, investimentos, câmbio. E, evidentemente, sobre a crise Palocci-Dilma.
O saldo é que Palocci foi obrigado a responder a Dilma em público e deve ser convocado na terça-feira pela CPI dos Bingos. A estratégia de evitar a ida à CPI não funcionou.
Palocci, assim, continua sendo cozinhado em fogo brando pela oposição e fritado pela banda do governo doida para abrir os cofres e animar a economia. Sua situação não é fácil e depende menos da oposição e mais dos amigos, como Buratti, dos colegas, como Dilma, e principalmente do chefe, o presidente Lula.
Em discurso pela manhã, Lula falou de economia e lavou as mãos em relação ao ministro. No depoimento, à tarde, Palocci falou que é ministro para "esta" política econômica, não para uma outra qualquer. Os dois andam se estranhando.
Ou seja: para PFL e PSDB, basta sentar na arquibancada e deixar o circo pegar fogo. O menor problema de Palocci é a oposição.

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