Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 18, 2005

CLÓVIS ROSSI Puro teatro

 SÃO PAULO - O ministro Antonio Palocci, que era "imexível" até sete ou dez dias atrás, começou a quarta-feira como um cadáver político e terminou-a de novo como "imexível", pelo menos até que as denúncias se transformem em fatos.
O que aconteceu de tão formidável para que o ministro fizesse esse insólito percurso? Nada.
É apenas o reflexo de o país viver sua primeira crise on-line. Informação on-line exige emoções fortes diárias. Se até um dos "blogueiros" mais bem informados do país (além de grande companheiro), como é Jorge Bastos Moreno, confessa seu tédio ao vivo, o que dizer dos consumidores de informação se não lhes forem servidas doses cavalares de emoções?
O depoimento de Palocci ao Senado foi, por isso, transformado em espetáculo. Mas só por isso. Ou alguém imaginou que Palocci diria aos senadores algo como: "Sim, matei Celso Daniel com as próprias mãos, para poder ficar com a coordenação do programa de governo de Lula e, depois da vitória, com a possibilidade de determinar juros obscenos, como sempre sonhei desde criancinha, já que jogador de futebol nem minha mãe acreditava que pudesse vir a ser (e mãe sempre acha o filho um baita craque)"?
Ridículo, não é? Se nem o Ministério Público nem a polícia, que investigam a fundo a gestão Palocci em Ribeirão Preto, dizem ter provas para indiciá-lo, para que o ministro entregaria o ouro, se ouro houver?
Não obstante, cansei de ler "semana decisiva" ou "dia decisivo" para a quinta-feira e/ou a semana de que ela fez parte.
Será que alguém achou que Palocci assinaria sua carta de demissão diante dos senadores, magoado com as críticas de Dilma Rousseff?
De novo, ridículo, não? Mas a vida on-line é assim. Tudo acontece e nada acontece ao mesmo tempo.
O fato é que o destino de Palocci não se decide em depoimentos. Decide-se ou no Palácio do Planalto ou nas investigações.

Arquivo do blog