ELIANE CANTANHÊDE Além de qualquer limite

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BRASÍLIA - Tá certo que Arthur Virgílio (PSDB), ACM Neto (PFL) e Heloisa Helena (PSOL) não podem e não devem sair por aí ameaçando "dar uma surra" no presidente da República, qualquer que seja o presidente da República.
Mas, cá pra nós, não cabe a um governo, qualquer governo, sair por aí grampeando os adversários políticos, muito menos os que integrem CPIs e estejam, portanto, envolvidos no legítimo trabalho de apuração de suspeitas contra esse governo.
Pode até não ser bonito investigar adversários para saber com quem se está tratando (ou destratando) e descobrir eventuais podres que sejam úteis numa campanha eleitoral. Mas é do jogo. É lícito. Daí a usar instrumentos ilegais, como o grampo, para se imiscuir na vida do outro já passa a ser bandidagem.
Essa história mostra bem o clima político de Brasília no ano da descoberta de Marcos Valério e do início (extemporâneo, aliás) da sucessão presidencial. A oposição ameaça bater no presidente. A situação é suspeita de grampear adversários. O que é pior: acredita-se com a maior facilidade que o governo do PT seria capaz de uma coisa dessas. Afinal, tudo pela causa, não é mesmo, Zé Dirceu?
A suspeita que se alastra para além das portas e das vidraças do Congresso é a de que o grampo, por ilegal, não estaria sendo feito diretamente pela Abin (a agência de inteligência do governo), mas, sim, por grupos paralelos que giram na sua órbita, mas sob uma bruma de ilegalidade. Difícil, mas não impossível, de provar. E é isso que a oposição, ou pelo menos os que se dizem atingidos, começam a tentar: provas.
Depois das malas, cuecas, Land Rovers, entramos numa nova fase, igualmente didática, da atual crise: antes, a corrupção, a grana; agora, a política suja, os grampos, o vale-tudo.
Onde isso tudo vai parar? Ninguém sabe, nem mesmo quem (dos dois lados) patrocina coisas assim. Logo, se trata de um típico tiro no escuro, e o risco é ricochetear em quem dispara.