Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 22, 2005

EDITORIAIS DE O GLOBO

Uma necessidade


A Comissão de Educação da Câmara está convocando todas as partes interessadas para discutir a necessidade de regulamentar o direito de greve nas universidades federais.

É uma idéia bem oportuna. Como mostrou levantamento do GLOBO, os professores deixaram de trabalhar 978 dias nos últimos 25 anos — o equivalente a mais de três anos letivos. Não é preciso lembrar que o maior prejudicado, nisso tudo, é o estudante. A paralisação de 2005 está completando hoje 85 dias.

A idéia da Comissão de Educação, na verdade, deveria aplicar-se a todo servidor público. A greve no serviço público, que entrou em cena com a Constituição de 1988, é diferente das demais — e por isso é que precisa ser regulamentada. Ao iniciá-la, o servidor sabe que não está correndo maiores riscos. No final da paralisação, é comum que se consiga o abono dos dias parados. Nesses casos, o término da greve é aleatório, e acaba acontecendo por uma espécie de cansaço geral.

Os professores argumentam que também é praxe, nesse caso, a "reposição das aulas". Mas quem conhece um pouquinho do assunto sabe que o que se "repõe", nesses casos, não compensa o prejuízo: o ritmo de ensino e aprendizado tem os seus tempos certos. E é muito comum que, nessas condições, o estudante acabe perdendo o ano.

Todos os cidadãos brasileiros têm, obviamente, o direito de discutir as suas condições de trabalho. Mas a verdade é que o direito de um termina quanto começa o do outro.

Do modo como estão as coisas, as práticas reivindicatórias tendem a prejudicar a seriedade da própria causa. Como disse o ex-ministro da Educação Cristovam Buarque, "uma greve que ultrapassa cem dias mostra que a universidade não é mais necessária da forma como está estruturada. Imagine um banco parado por cem dias".

O que o ex-ministro está apontando é uma espécie de deslocamento da realidade, que acaba prejudicando a discussão sobre o ensino superior público no Brasil. A sucessão infindável de greves dá ao ensino público um aspecto de terreno inviável, de que procura fugir quem tem condições para isso. Assim se aborta uma discussão séria.

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