Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

EDITORIAIS DE O GLOBO

O uso da História


Nas campanhas eleitorais para presidente da República, candidatos procuram ligar sua imagem à de personalidades marcantes do passado. Quanto mais populares tenham sido essas personalidades, maior a preocupação em se confundir com elas. Dois presidentes exercem preferencialmente esse poder de atração sobre políticos: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

O primeiro tem saído de moda. Como varguismo se tornou também sinônimo de autoritarismo (vide a ditadura do Estado Novo), de controle autoritário da sociedade, o político gaúcho tende a cair em desuso. Com JK ocorre o contrário. Pairou como um espectro sobre a campanha de 2002 e já foi citado como parâmetro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — prenúncio do que pode acontecer na sua quase certa campanha pela reeleição.

Lula, como outros políticos, tenta capitalizar aspectos positivos que ficaram da imagem de Juscelino e seu governo: simpatia pessoal, capacidade de empreender demonstrada na construção de Brasília, na atração de montadoras de veículos para o país, na abertura de estradas, e assim por diante. O político, é claro, pretende herdar esses predicados no imaginário do eleitor — e se aproveita do fato de que a distância do tempo costuma esmaecer os aspectos negativos desses símbolos.

Não interessa a Lula que ressuscitem a relação direta que o governo JK teve com a disparada da inflação no final da década de 50/início dos anos 60, causada por uma política de militante e competente irresponsabilidade fiscal.

Esse tipo de tática de campanha visa a explorar o lado emocional do eleitor. Não passa disso, pois o Brasil deste início de Século XXI nada tem a ver com o país da fase que vai do pós-guerra até o final da década de 70, quando perdeu definitivamente fôlego o modelo de desenvolvimento autárquico. Pois naquela época acelerou-se o processo de quebra fiscal do Estado.

Mas para políticos em campanha isso é um detalhe.



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