Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO

RISCO DE GASTANÇA
Uma reviravolta na política econômica que representasse um rompimento com a responsabilidade fiscal em favor do aumento de gastos no ano eleitoral de 2006 seria um deplorável retrocesso. Tal cenário, no entanto, pode parecer bastante tentador para o PT e o presidente Lula, cuja candidatura à reeleição nem ele próprio consegue mais disfarçar. Se nesses períodos o aumento de despesas acontece mesmo quando há freios, sem eles corre-se o risco de uma espiral perdulária.
Tal temor é um dos aspectos relevantes dessa paradoxal situação que se formou em torno da permanência ou não de Antonio Palocci na pasta na Fazenda. Com efeito, os acontecimentos dos últimos dias poderiam ser descritos como um movimento de setores da oposição para preservar o "seu" ministro, procurando fechar as portas para a possibilidade de uma troca, que foi reavivada pelas críticas da ministra Dilma Rousseff à política fiscal e pela ambigüidade com que o presidente Lula vem se comportando diante do debate.
Tal leitura encontra amparo num conjunto de fatos e manifestações, e a entrevista do senador Tasso Jereissati, publicada por esta Folha na sexta-feira é, quanto a isso, uma peça cristalina. No entendimento do líder tucano, a perda de credibilidade do presidente teria lhe retirado a chance de se apresentar como "fiador da estabilidade", papel que hoje caberia apenas ao ministro da Fazenda.
Diante desse quadro e dos compromissos de Palocci com as principais diretrizes da gestão anterior, faz todo sentido que o ministro seja bem visto pelo PSDB, cujo objetivo principal, obviamente, é desgastar ao máximo o presidente Lula, mas sem gerar um quadro de descontrole, que possa redundar em desorganização da economia. "Faremos o maior empenho para que o presidente vá até o seu último dia de mandato", disse Jereissati na citada entrevista.
Resta saber se a dubiedade de Lula é sinal de uma intenção de mudança ou se, na realidade, trabalha para um cenário no qual Palocci permaneceria no cargo, tranqüilizando os mercados, mas não tão forte a ponto de poder esconder a chave do cofre.

REDE DEMOCRÁTICA A Cúpula da Sociedade da Informação que terminou ontem em Túnis foi obscurecida pela acalorada discussão sobre quem deve controlar a internet. Um acordo de última hora foi obtido na quarta-feira, instantes antes da abertura do encontro. Ficou acertado que, por enquanto, a gestão da rede continuará a ser feita pelos EUA. A partir do próximo ano, será criado um fórum internacional para discutir a questão -"solução" típica de quem deseja manter tudo como está.
Com isso, os participantes da cúpula ficaram livres para dedicar-se a debater como diminuir o fosso digital entre ricos e pobres. Atualmente, apenas 14% da população mundial tem acesso à rede. A meta é que, até 2015, metade dos terráqueos estejam conectados à internet.
É claro que, no plano ideal, seria melhor se a internet fosse controlada por uma entidade absolutamente neutra e apolítica. Hoje, ela é gerida pela Icann (Corporação da Internet para o Anúncio de Nomes e Números), uma organização privada contratada pelo Departamento de Comércio dos EUA. O problema é que a proposta alternativa, defendida por países como Brasil, China e Arábia Saudita, de criar um organismo da ONU para substituir a Icann, além de irrealista, era altamente suspeita.
Para começar, ninguém de bom senso poderia crer que os EUA abririam mão de controlar um instrumento tão valioso como a internet, por eles criado e desenvolvido. De resto, a principal preocupação de Pequim e Riad não é tornar a rede mais aberta e democrática, mas, pelo contrário, mais controlável e censurável. Como o Brasil embarcou nesse pleito em companhia de algumas das piores ditaduras do planeta é questão ainda aberta a escrutínio.
De certo há que uma das maiores virtudes da internet reside justamente em sua multiplicidade que, por vezes, beira o caos. E é em sua virtual incontrolabilidade que está a garantia de que ela não será instrumentalizada por nenhum governo.

Arquivo do blog