Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

DORA KRAMER Na cabeceira da pista

OESP

Na cabeceira da pista

Dora Kramer
dkramer@estado.com.br

A convenção que alçou o senador Tasso Jereissati à presidência nacional do PSDB foi praticamente um ensaio geral do ato de lançamento da candidatura do partido à Presidência da República.

Faltou só o candidato, mas os pretendentes estavam todos lá, bem como o cabo eleitoral mais ilustre (Fernando Henrique) e os aspirantes a parceiros de chapa e de coligação – não por acaso a cúpula do PFL compareceu em peso.

O clima de ontem foi muito diferente do ambiente eminentemente partidário, despido de caráter eleitoral, que preponderou na eleição de José Serra, dois anos atrás, para o cargo agora ocupado por Tasso. Na ocasião, Serra falou duro com o PT, imprimiu um tom incisivo – nem sempre seguido por todos – ao discurso da oposição sem, no entanto, nem de longe considerar a possibilidade da volta ao poder como a questão central.

Agora não, era como se o PSDB já estivesse ali para escolher entre José Serra, Geraldo Alckmin ou Aécio Neves para enfrentar o presidente Luiz Inácio da Silva daqui a um ano nas urnas.

E é possível falar assim, no enfrentamento com Lula, mesmo não sendo a candidatura à reeleição uma certeza inamovível, porque o ex-presidente Fernando Henrique não poderia ser mais claro na escolha do adversário preferencial. Disse com todos os pontos e vírgulas que o PSDB quer mesmo bater de frente é com o presidente.

"É importante que o Lula seja candidato", disse, com o quê de provocação de quem sabe perfeitamente que, quanto mais a oposição o desafiar e, de certo modo, menosprezar sua força eleitoral, mais disposto a concorrer Lula estará.

Principalmente se o repto partir de FH, sua obsessão comparativa.

O PSDB aceitou o jogo da comparação e ontem já enveredou por esse terreno, atacando pontualmente o atual governo, desafiando Lula a renovar as promessas da campanha anterior e já antecipando que vai trabalhar a desconfiança do eleitor em relação à sinceridade do presidente em cumpri-las vis-à-vis o descumprimento de boa parte delas a partir da posse.

Os tucanos abandonaram as meias palavras e qualquer constrangimento de posarem em franco estado de embate eleitoral.

Há dois anos, o cenário da convenção foi um dos auditórios do Congresso, onde o tucanato se reuniu algo contido e ainda combalido pela derrota de Serra, que naquela altura voltava de um período sabático nos Estados Unidos.

Ontem o centro de convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, foi pequeno para abrigar delegações de toda parte, torcidas organizadas, militantes exaltados e todos os caciques do partido exibindo duas preocupações: manter altíssimo o teor dos ataques ao PT – principalmente no tocante à conduta ética e à eficiência (ou falta de) administrativa – e preservar a unidade de um partido com possibilidades diversas de candidatos.

No palco e na platéia observava-se o cuidado extremo de não se particularizar preferências. Os oradores dividiram igualmente as referências a Serra, Aécio e Alckmin e os espectadores seguiam disciplinados a regra. A certa altura, por exemplo, vários grupos gritavam ao mesmo tempo "um, dois, três, quatro, cinco mil" cada um deles completando o "queremos presidente do Brasil" com um nome diferente: Serra, Geraldo ou Aécio.

Eliminado Tasso Jereissati nas preliminares da disputa presidencial, Fernando Henrique também se postou de fora, ficando com a tarefa de porta-bandeira e mestre-sala da campanha. E completamente solto no palavrório – "lugar de ladrão é na cadeia" –, disposto a dispensar as abstrações mais fidalgas e partir, como disse, para "a coisa concreta". Ou seja, a pancada explícita.

Cada qual ao seu estilo, lógico.

O amigável Aécio indo à luta – "que o Brasil nos ouça e os adversários nos esperem" –, o contido Alckmin fazendo questão de exibir adrenalina e o detalhista Serra apontando um a um os erros do governo, da vacinação contra a aftosa ao envio de tropas ao Haiti.

No fim, discurseiras à parte, Fernando Henrique convocou a nação tucana a ir às ruas "arranjar votos" e, numa frase pronunciada assim como quem não quer nada, deixou escapar: "Vou sim, disputar a eleição."

Se foi ato falho, coincidiu com Lula que, horas antes, na entrevista a emissoras de rádio regionais, havia dito palavras idênticas, logo corrigidas para o terreno das hipóteses.

Fato é que, na linha de frente ou não, o embate de 2006, se depender apenas da vontade de ambos, dar-se-á entre as forças de Lula e FH.

Contraste

Ivone Luzardo, presidente da União Nacional das Esposas de Militares, esteve na convenção do PSDB, e conseguiu entregar a Fernando Henrique um bilhete atribuindo a ele a culpa pela "desgraça da família militar" e pelo "sucateamento do Brasil". Deixou telefone e pediu para FH ligar.

Reclamou do ambiente de exaltação ao ex-presidente e só não foi expulsa por um grupo de mulheres do partido porque foi discreta no protesto.


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