A idéia é divulgar um relatório parcial em novembro denunciando Valério e Delúbio
DORA KRAMER
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O primeiro relatório saiu em agosto, com a lista de 18 parlamentares que teriam participado do esquema de arrecadação e distribuição de dinheiro, denunciados por quebra de decoro parlamentar.
A antecipação de mais um relatório é fruto do trabalho da subcomissão de movimentações financeiras, comandada pelo deputado Gustavo Fruet.
Em dezembro, antes do recesso parlamentar e ao final do primeiro prazo regulamentar de seis meses para o funcionamento da CPI, instalada em junho, será divulgado um terceiro relatório, incluindo entre os indiciados o deputado José Dirceu, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, talvez (ainda não é certo) o ex-presidente José Genoino e outros diretamente envolvidos, como sócios e funcionários de Marcos Valério.
Nesse parecer estarão as irregularidades cometidas nos Correios e outras estatais, mapeada boa parte dos caminhos percorridos por recursos irregulares, exposta a farsa da versão dos empréstimos, relatados episódios de tráfico de influência com o objetivo de beneficiar empresários e delineada a influência política na ocupação de cargos com a finalidade de acobertar ilícitos.
A preocupação dos integrantes da CPI dos Correios, sejam eles governistas ou oposicionistas, é fornecer respostas claras, detalhadas e se possível definitivas a respeito do uso do aparelho de Estado para o abastecimento do caixa do PT e sustentação da base de apoio parlamentar do governo. "A CPI não pode acabar mal" é a frase recorrente entre deputados e senadores.
E, para que termine bem, discute-se ali a necessidade de pedir uma prorrogação até março ou abril, para concluir investigações nos fundos de pensão e em outras estatais, como o Instituto de Resseguros do Brasil, e adiantar ao máximo as apurações sobre contas no exterior. Quanto a este ponto específico, a CPI não acredita que consiga apresentar um trabalho conclusivo.
De qualquer modo, a idéia é apresentar ao final uma "peça acusatória" contra o PT e o governo que, se prevalecer o desejo da oposição, sirva como referência para toda a campanha eleitoral. Estará ali, no relatório final da CPI dos Correios, o roteiro básico para a argumentação com a qual os oposicionistas pretendem combater o projeto de reeleição de Lula.
Ao mestre
O presidente da República não tem estudo formal, mas é catedrático na arte de ensinar o não aprendido. Dá lições de democracia ao mundo, de economia ao planeta, de justiça social ao universo, de ética ao brasileiro e, agora, de cortesia à imprensa.
Luiz Inácio da Silva reclamou da deselegância dos jornalistas que, à saída de uma cerimônia no Itamaraty, insistiam em lhe perguntar, em voz alta, qual seria sua opinião sobre o dinheiro supostamente vindo de Cuba para os cofres de sua campanha eleitoral em 2002.
Sua excelência achou uma falta de educação inominável o vozerio dos repórteres, cuja missão de informar não precisaria ser exercida aos gritos caso o presidente da República cultivasse o hábito de falar civilizadamente ao País por intermédio dos meios de comunicação.
A excitação em torno da participação de Lula segunda-feira no programa Roda Viva, da TV Cultura, põe o Brasil na condição dos raros países democráticos onde a mera expectativa de uma entrevista já é notícia de destaque.
Ademais, a formosura de modos não é exatamente uma característica do presidente. Quem esquece a mulher dentro do carro oficial, recorre a comparações escatológicas em público, cultiva a rudeza nas maneiras e expressões tem suficiente experiência no ramo para não se chocar com a impolidez.
Absorve bem até a rusticidade da oposição, que esta semana fez sua estréia de gala na área, ameaçando sair no braço com o presidente.
Aritmética
O adiamento da votação do processo de cassação do deputado José Dirceu em função da precedência dos processos dos deputados Sandro Mabel e Romeu Queiroz, já concluídos, inverte a ordem dos fatores, mas não altera o resultado.
Pesos e medidas
Leitores escrevem defendendo a cassação da deputada Raquel Teixeira em virtude da absolvição do deputado Sandro Mabel, apontado como autor de uma proposta de suborno para ela mudar do PSDB para o PL, pelo Conselho de Ética.
Aos fatos: o acusador original de Mabel foi Roberto Jefferson, cassado; Raquel Teixeira entrou no caso na condição de testemunha da acusação e, segundo o relator, sua conclusão não inclui convicção de que a deputada mentiu, mas apenas que não havia provas para condenar. Se houve falha, foi da investigação.