Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 19, 2005

Brasil versus RICs GESNER OLIVEIRA

FSP



Brasil, Rússia, Índia e China formam o badalado grupo dos Brics, países grandes com renda por habitante que hoje não passa de 20% da média dos países ricos, mas que responderão pela maior parte da produção do planeta em meados do século 21. O Brasil é o patinho feio do time. Sem um projeto consistente de crescimento, é o único que não está aproveitando a atual fase de expansão da economia mundial. Se continuar assim, os Brics vão se transformar em RICs e deixar o pobre Brasil para trás.
No entanto não há, em princípio, razão estrutural para o Brasil ficar de fora da rota de crescimento. É incompetência, mesmo. Recente estudo das Nações Unidas, disponível em www.unctad.org, sobre indicador de desenvolvimento contém vasta informação sobre 110 países, incluindo os Brics. É possível comparar o Brasil com os RICs.
Os indicadores estão agrupados naquilo que o estudo chama de componentes de três dimensões: estrutural e institucional, políticas de comércio e de desenvolvimento econômico e social. O Brasil não fica distante de uma seleção dos RICs. Essa última corresponde a um exercício simples. Tomando o melhor indicador de Rússia, Índia e China para cada dimensão estudada, o resultado não fica distante dos números brasileiros. Em outras palavras, não há nada que faça os RICs especiais relativamente ao Brasil. Seguem alguns exemplos.
No tocante ao desenvolvimento institucional, chamam a atenção os resultados sobre corrupção. São péssimos para todos. Imagine o leitor que o Brasil é o melhor! Isso não deveria surpreender quem já teve contato com as máquinas burocráticas chinesa, indiana e russa.
Em gasto com educação como proporção do PIB, o Brasil ganha da Rússia e da China e praticamente empata com a Índia. O problema, como se sabe, é que o Brasil gasta mal. Não dá a devida prioridade à educação básica nem foi capaz de gerar o mesmo número de universidades e centros de excelência como os dos RICs. É inquietante que, segundo classificação do "Times", quatro universidades chinesas, duas indianas e duas russas apareçam bem à frente da Universidade de São Paulo, a única instituição brasileira classificada em uma lista de 200 universidades, na 196ª posição.
No tocante à infra-estrutura, o Brasil supera a China e a Índia em número de telefones por mil habitantes: 208 no Brasil, contra, respectivamente, 138,7 e 36,4 para aqueles dois países; o indicador brasileiro fica próximo ao da Rússia (229,1).
No tangente à política de comércio exterior, o Brasil apresenta uma tarifa média de importação de cerca de 11%, inferior à da China (14%) e à da Índia (30%) e superior à da Rússia (9%). No entanto é o país que enfrenta a maior média de taxação em seus produtos por parte dos parceiros comerciais: 5,1%, contra 3,3%, 4,4% e 1,6% da China, da Índia e da Rússia, respectivamente. Tais números não captam, infelizmente, as barreiras não-tarifárias, das quais os quatro países são vítimas freqüentes.
Quando se corrige pelo poder de compra da moeda, o PIB por habitante brasileiro em dólares de 1995 é de US$ 6.835, próximo ao russo (US$ 6.951), 84% superior ao chinês (US$ 3.709) e 198% maior do que o indiano (US$ 2.292).
É evidente que há fatores com os quais o Brasil não poderá contar. O país não tem mercado potencial tão grande quanto o chinês e em certa medida o indiano, elemento que atrai fluxo elevado de investimento para aquelas nações, especialmente para a chinesa. Da mesma forma, o hiato em educação e estoque de capital humano relativamente à Rússia é enorme, sem falar na vantagem que o petróleo representa para as contas externas daquele país.
Mas o que um simples painel de indicadores revela é que não há nada inexorável acerca do desempenho relativo desses países nas próximas décadas. A experiência histórica demonstra, contudo, que os casos de sucesso vieram acompanhados de políticas de longo prazo e consistentes ao longo do tempo. É isso que falta ao Brasil na atualidade. Resta o consolo de que incompetência tem cura.

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